O Cativo
.
Klee, Captive
.I
A minha mão tem só um
gesto de afugentar;
da fraga húmida caem
gotas sobre as velhas pedras.
Ouço só este bater,
meu coração acompanha
este cair das gotas
e com elas se desgasta.
Se caíssem mais depressa,
se outra vez viesse um bicho...
Algures havia mais luz -.
Mas, que sabemos nós?!
II
Imagina o que agora é céu e vento,
e respiração da boca e luz dos olhos,
petrificado em volta do lugar
que te rodeia o coração e as mãos;
e o que é amanhã e: depois e: mais tarde
e o ano que há-de vir e os mais que virão -
que era chaga aberta em ti, cheia de pus,
toda inflamada, e não mais amanhecia;
e que tudo o que foi endoidecia
e esbracejava em ti, a linda boca,
que nunca ria, espumante de riso;
e que o que foi teu Deus era só o teu guarda,
e metia, de mau, na última abertura
um olhar sujo. E tua ainda vivo.
A minha mão tem só um
gesto de afugentar;
da fraga húmida caem
gotas sobre as velhas pedras.
Ouço só este bater,
meu coração acompanha
este cair das gotas
e com elas se desgasta.
Se caíssem mais depressa,
se outra vez viesse um bicho...
Algures havia mais luz -.
Mas, que sabemos nós?!
II
Imagina o que agora é céu e vento,
e respiração da boca e luz dos olhos,
petrificado em volta do lugar
que te rodeia o coração e as mãos;
e o que é amanhã e: depois e: mais tarde
e o ano que há-de vir e os mais que virão -
que era chaga aberta em ti, cheia de pus,
toda inflamada, e não mais amanhecia;
e que tudo o que foi endoidecia
e esbracejava em ti, a linda boca,
que nunca ria, espumante de riso;
e que o que foi teu Deus era só o teu guarda,
e metia, de mau, na última abertura
um olhar sujo. E tua ainda vivo.
Rainer Maria Rilke
(tradução de Paulo Quintela)
(tradução de Paulo Quintela)