quinta-feira, novembro 30, 2006

Palavras que um dia gostaria de dizer nos olhos de alguém (1)


Delicio-me com os perfumes que se escapam de cada palavra tua. Os meus sentidos nunca estiveram tão vivos e receptivos. A miríade de essências que se soltam do teu ser como faíscas, tudo quanto emana de ti... desejo guardar em cápsulas cristalinas. Mas sem nunca as aprisionar. Depositá-las e dar-lhes a liberdade de se difundirem ao longo do vaso comunicante que pretendo ser para ti. Posso assim sonhar que me deleito contigo o tempo que eu quiser. As inúmeras divisões do meu corpo há muito que estão preparadas para te acolherem como a casa mais aconchegante.


Anjos-caídos

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Anjos-caídos, vamo-nos debatendo nas nossas quedas. De preferência sem qualquer vestígio de asas. Caso ainda existam, há sempre remédio: em queda livre é mais fácil desembaraçarmo-nos de asas postiças. Cairemos com aparato, mas sem alaridos e sem adornos gratuitos (uma das piores formas de alarido).
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segunda-feira, novembro 27, 2006

Sñhô REM... faça-me um favor...

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Todas as noites, em sonhos, chamei por ela um sem número de vezes. Quando surgiu à minha frente, o sonho não deu ares de querer volatilizar-se. Na verdade mal começara ainda.
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Sono REM

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"Rapid eye movement (REM) sleep is the stage of sleep characterized by rapid movements of the eyes. It was discovered by Nathaniel Kleitman and Eugene Aserinsky in 1952. During this stage, the activity of the brain's neurons is quite similar to that during waking hours; for this reason, the phenomenon is often called paradoxical sleep. Most of the vividly recalled dreams occur during REM sleep."

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fonte: Wikipedia.

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Warrior

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Aprender a reerguermo-nos é como a renovação gradual do sangue que nos corre nas veias. A transfusão é uma aprendizagem gota-a-gota. Assegurar que cada célula recebe a sua porção de nutriente previamente fervido em dores.
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Sei como é...

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"com a dor é diferente (...) lembra-nos quem somos como se nos beliscassem durante o sono."
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in
"Os Cavalos de Tarquínia"de Marguerite Duras.

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Please remember how precious is...

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sábado, novembro 25, 2006

Dwarfs... but still digging deep inside...

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Pisadas... Todas valerão a pena.

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Caminhar em frente com esta convicção: a de que as pisadas que damos podem revelar-se rasteiras que, se algumas vezes nos farão sérias mossas, não será no entanto com o intuito gratuito de nos derrubar. A aprendizagem de um caminho não se faz sem dor e o trilho nunca se deixa ver além das ervas altas. Somos insectos e é este o solo que pisamos. Então, desviemo-nos das pedras e daquelas antenas mais duvidosas que vêm direitas a nós e que em estranhos sinais nos incitam a arrepiar caminho. Desviemo-nos de dúvidas infundadas em cujo idioma somos por demasiadas vezes fluentes.
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domingo, novembro 19, 2006

Nem aero-transportado...

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Se já não o soubesse... hoje, particularmente hoje, sinto que os arco-íris jamais poderão ser alcançados por qualquer engenho detentor de asas, sejam aviões ou caças. Estes últimos, apesar de serem mais determinados, também falham. Pessoas aladas, para quem acreditar em anjos, também não chegam lá.
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Em busca do arco-íris perdido

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Os arco-íris sempre me fascinaram. Quando era miúdo julgava que eram a prova material de que algures, nesta terra que pisamos, também existiam mundos de fantasia. Por mais longínquos que se situassem, por mais que andasse e nem um pouco me aproximasse do local onde começavam: existiam e pronto. Não era um daqueles devaneios de criança, uma vez que os olhos dos adultos também conseguiam captar o misterioso fenómeno - a formação de um arco-íris a partir do nada. E, o que sendo visível por todos e ao mesmo tempo capaz de surgir assim do nada, sem que os adultos o consigam explicar, abre portas a todo o tipo de fantasias possíveis de se materializarem. E além disso, por si só, a mente de uma criança não precisa de pedir licença para materializar as suas fantasias... Ela implanta-as quando como e onde bem entender.
Não foram poucas as tardes chuvosas em que me desdobrei entre os trabalhos de casa, os bonecos na TV e as fugidas à janela a procurar sinais da dita aparição. Ficava radiante quando detectava os sinais tíbios de um arco a querer esboçar-se no céu. Ao iníco, timidamente, mas depois, incentivado por um ou outro raio de sol que se escapasse por entre as nuvens, imprimindo-se com maior segurança. A transição para cores mais vibrantes era quase sempre suave, intermitente e precária. A função da chuva seria a de fertilizar o ar, o céu, onde se formaria a mais bela das pontes encurvadas, feita de um material frágil, translúcido, mas que certamente assentaria de pedra e cal na mais felizarda das terreolas. Os solos molhados não constituiriam problema e o arco suportaria sem dificuldades, acreditava eu, o peso de uma criança. Nenhum obstáculo a futuras brincadeiras, portanto.
Mas depressa me dei conta que, seja no que for, há sempre obstáculos que se opõem à nossa vontade. Os arco-íris seriam uma espécie de brecha temporal de curta duração para um mundo ímpar.
Entristecia-me o facto de desaparecerem tão depressa. Se me pusesse a caminho, ao seu encalço, nunca teria tempo de lhe chegar antes que se sumisse sem deixar rasto no céu e na terra. Esta dura evidência tive-a uma vez quando íamos de carro, em bom andamento e aparentemente em direcção ao arco, mas em todo o percurso a distância não se encurtou um mílimetro sequer. À laia de compensação para o facto de haver mundo possíveis mas fisicamente inacessíveis, refugiava-me nos meandros da imaginação. Punha-me então a imaginar que subiria por ele acima e deixar-me-ia escorregar para o outro lado. Tinha a plena convicção de que as alturas não me causariam vertigens. Quem, nos passeios escolares, adorava as velocidades e as alturas que se atingiam nos circuitos das montanhas-russas possuía certamente o traquejo para aventuras semelhantes.
Ainda hoje, dou comigo a querer tocar aquelas cores, "vê-las" com as próprias mãos e usufruir do maior escorrega (só possível porque desenhado no céu) - aquele capaz de me reacender o prazer de deslizar livremente, sorrindo ao vento. Um escorrega sem dúvida implantado num parque de diversões feito de todos os sonhos possíveis.
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sábado, novembro 18, 2006

Tranças - Livre associação do sr.Magoo

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- Cloë Sevigny... és mesmo tu?
- Não sr. Magoo...
- Menina... seja quem for... ajude-me aqui numa coisa...
- Diga... - A que raça é que pertençe este belo equídeo?
- Qual equídeo qual quê?! Tire mas é daí as patas!
- Ah, mas então o belo espécime pertençe-lhe!
- Velho tarado!
- Menina... mas estas crinas tão macias, quem resiste a afagá-las?...
- Largue-me seu #%#$#!! 

- E nem relincha nem nada o animal... A menina é uma exclente criadora, deixe-me dizê-lo...
Horas depois, à porta de casa, pergunta-lhe o vizinho (ao sr Magoo, que ostenta um valente hematoma ao nível do sobrolho), o que lhe sucedeu. Ao que ele responde:
- Veja só! Estava eu na feira de coudelaria... Elogiava eu a calma de um bichinho, um cavalinho - belo espécime por sinal, mas daqui em diante só para admirar à distância, livra! -, quando inadvertidamente levei um tamanho coice que até a vista se me turvou... e de tal modo que me perdi por estas ruas e já não sei dar com o caminho para casa. Por acaso o meu caro vizinho não vai para as nossas bandas, pois não?...
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O Quosimodo é qu' é um senhor!

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Cathédrale Notre Dame de Paris


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Como nunca lá fui e "por acaso até" gostaria de lá ir *, era bem capaz de me juntar a um hipotético coro de vozes deste género:
"Ó Quosimodo! Uma horda de costas-curvadas** oferece-se para qualquer serviço nas dependências da casinha ou até mesmo para te dar uma ajudinha aí em cima!... Que nos dizes a isto, pá?!".
Depois, a solo, como sempre imbuído de apurado sentido de oportunidade e acutilância - i.e. receita para me encher de rídiculo -, talvez perguntasse à pessoa a meu lado: "E não há o risco de no final ficarmos com as costas ainda mais curvadas?..."
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* digamos que na pausa entre as pesquisas para o CTD (ainda que tudo esteja onde deva estar - em ponto morto, pois claro -, j
á estou a antecipar o cenário negro que terei pela frente [fogo! muito se queixa este rapaz por antecipação!]; e passando por cima do "tudo se faz", antecipo também um dos locais onde não me importaria de estar ao invés. Ah e por favor, não me obriguem a revelar o significado obscuro que se oculta sob tal sigla... é da ordem do inominável e, como tal, queima a língua. Julgo que a médio prazo também queima a pestana e curva o ripanço. Vamos todos roubar o lugar ao Côso-e-tal...)
** os redactores do inominável CTD. (Mas é certo que há coisas piores na vida.)

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Livre associação de...

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foto de Heather Fong
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... com "Catcher in the rye / À espera no centeio" de J.D.Salinger. Mas não tem nada a ver.
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Uma casa sem retratos

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Uma casa sem retratos, nem fotografias é uma casa sem memórias? Ser-se iconoclasta em relação ao passado é desviar a essência da rememoração para os campos da adoração de uma divindade? Como naqueles cultos que excluem qualquer forma de representação pictórica? Sem imagens físicas e reais que nos "fixem" a um instante do passado, livres para as recriarmos mentalmente, teremos facilitada a tarefa de elevar uma certa ideia de passado a um idílio, a um paraíso perdido que por si só justifica um culto. E sabendo com que frequência os cultos criam amarras à vivência plena do presente, não será o culto do passado um dos mais perigosos?
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Sem reservas...

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Dzihan & Kamien, Gran Riserva (2002)
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Pequena pérola respigada, em boa altura, d' O contentor por excelência.
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Dumpster

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Frank Ryan, 2 Men or Dumpster
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sexta-feira, novembro 17, 2006

Dwarf

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Velázquez, The Dwarf Francisco Lezcano, c. 1642-45

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Quando me sinto pequeno, o primeiro reflexo é retrair-me ainda mais. Se ficar por aí e não me esconder num canto, sinto que conquisto uma pequena vitória... Acre, mas ainda assim um ganho.
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segunda-feira, novembro 13, 2006

Gemido

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gemido: alfabeto do prazer,
expiração profunda do corpo,
de cada célula tocada por uma sensação.

fio de água doce,
que sem aviso de uns lábios se desprende,
dando a beber ao outro
o sabor
de um instante que nasceu a dois.
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Desejo de sal e mar

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Georgia O'keeffe, Pelvis with the Distance
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Sentadinho no meu modesto quarto de estudante, às voltas com papéis intragáveis, chegam-me gemidos de um dos quartos vizinhos. Apanham-me como numa ondulação, mas debato-me para não ser levado na crista. Pouco a pouco, a minha morada passa a ser uma aprazível casa de praia. Os sons, ao tentarem intrometer-se dentro de casa, vão sendo adocicados ao longo da fachada aquecida pelo sol. A percepção vem do fundo dos corredores e contém promessas de alcova. E o mar sempre ali ao pé, vigoroso e calmo ao mesmo tempo. Esse que devora espaços de nós, arrastando aluviões de sedimentos, deixando em nós a marca de uma enseada - sempre latente, sempre por preencher. Sob a superfície dos pensamentos, entre cada fracção de segundo que medeia cada uma das nossas acções - vislumbres do mar e da enseada.
Claro está que se quero voltar a fazer alguma coisa de jeito com a papelada à minha frente, é forçoso que coloque os phones nos ouvidos e vá aumentando os decibéis até abafar as ondulações. A partir daí é só uma questão de lidar com a torrente de imagens prestes a transbordar daquele copo particularmente sensível e sugestionável, que a todo o instante reclama a hegemonia do meu cérebro. E não seria difícil chegar à embriaguez. Por isso, se quero retomar o estudo, nada de o encher até ao topo com a água simultaneamente doce e salgada desse mar. Nada de andar a encher copos e preencher o vazio da enseada.
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domingo, novembro 12, 2006

Reformulação

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Já deixei de me questionar sobre quem sou. Pelo menos já não o faço com a frequência de outras alturas. As respostas, as minhas e as dos outros, nunca me convenceram. Anos se passaram até que me batesse forte a premência de nova pergunta. E agora pergunto-me o que quero fazer de mim... e em certas horas lamento os anos perdidos, mesmo sabendo que o lamento é também ele uma causa perdida.
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Infância num país distante

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Lembro-me da torre de Babel erigida no pátio da escola,
inspirada na confusa partilha dos idiomas.
Era mais um segredo entre crianças: a linguagem -
moeda de troca restrita a núcleos selectos,
os mesmos que ora me permitiam visar no pátio
as balizas decalcadas a giz nas paredes,
ou, como algumas vezes acontecia,
ora me franqueavam as portas da incompreensão,
e daí para um certo isolamento,
um abrandar de passo,
segui-los na rectaguarda a caminho de casa.

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7/8/2005


A bastantes não...

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Gustav Klimt, Sea Serpents IV

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- Acho que é a mulher mais bela que já vi.
- E a quantas mulheres já disse isso?
- A bastantes. Mas isso não o torna menos verdadeiro quando o digo agora.
Ela riu-se.
- Suponho que não. Mas fiquemos por aqui, está bem?
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in "Paixão em Florença" de Somerset Maugham.
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What a waste



Krystal Tweeddale - Stripped


" What a waste
You're so chaste" *
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* Sonic Youth, faixa nº5 do "Rather Ripped".



Chastity belt

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Travo muita coisa. Ao contrário do fumo nos pulmões, nem sempre liberto os “disparates” que na verdade também gostaria de dizer.
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The slowly lost of innocence



Stephanie Rodriguez, The Innocent


Não há uma inocência, há inocências. Umas mantêm-se e por vezes mascaram-se de ingenuidade. Outras vão-se perdendo no confronto com o mundo ou são-nos tiradas com violência, deixando-nos sem pé durante uns tempos e com marcas mais ou menos profundas. Mas com o tempo tudo passa, até uma certa ideia de inocência. E se não passa, pelo menos transforma-se ou evolui noutra coisa qualquer. Com a idade, definitivamente, não se geram inocentes. O que não invalida que o olhar de vez em quando ainda se demore por lá...




A perda de anonimato e a parábola dos silêncios e da solidão

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Àquela hora da noite ainda havia pouco movimento nas cantinas. O anonimato de um rosto em particular, um rosto que por qualquer motivo chamasse a atenção, era portanto mais difícil de manter.
Numa mesa à minha frente sentou-se um senhor muito alto e magro. Antes de ficar de costas para mim, atentei por alguns segundos nas suas feições: encovadas e frágeis até mais não, encerradas num silêncio de estátua. Os olhos pareciam pequenos pontos sumidos por detrás das lentes. O cabelo era ralo e o tom de pele moreno. Os movimentos que fazia pareciam dotados de uma estranha elasticidade que se percutia aos objectos: ao casaco, à mochila, à carteira, etc. Sentou-se e levantou-se logo de seguida, como uma ponta-e-mola, para ir buscar a garrafa de água de que se tinha esquecido. No trajecto para cá: o mesmo rosto de estátua, impassível, que jamais nenhum pássaro ousaria perturbar. Sentou-se novamente (ponta-e-mola guardada no bolso). Em virtude de ser tão alto, talvez, debruçou-se quase ao nível da tijela e pôs-se a sorver lentamente a primeira colherada de sopa.
Entretanto chegou um outro senhor. Cumprimentaram-se. Este último, mais vivaço, entre pousar ou não o tabuleiro na mesa perguntou-lhe se se podia juntar a ele, acrescentando num tom ambíguo: "Ou preferes jantar a sós?" Não sei se obteve resposta ou se foi a expressão do senhor muito alto e magro, o que é facto é que o recém-chegado interrompeu o ar folgazão e perguntou preocupado: "Estás bem? Passa-se alguma coisa?" O senhor muito alto e magro continuava de costas arqueadas sobre a tijela e apenas lhe distingui uns sussuros. Assim de costas, parecia-me que ele em ocasião alguma sequer olhara o outro nos olhos, como se falasse directamente para a tijela de sopa. Talvez pensasse: "Lá se foi o meu momento de paz..." O outro, contudo, insistiu: "Não me pareces nada bem... Não me queres dizer o que se passa?". Mas deve ter-se convencido de que não conseguiria arrancar-lhe mais que uns acenos de cabeça a querer dizer que estava tudo bem e lá acabou por se sentar.
O senhor vivaço esforçava-se por fazer conversa, mas as suas palavras esbarravam numa parede que não lhe devolvia qualquer resposta, apenas o eco de quem continua a sorver a sua sopa. Antes de me levantar para devolver o tabuleiro, apanho uma farpa que me obriga a permanecer mais um pouco. Ou melhor, apanho de uns fragmentos de conversa o sentido de uma farpa: "Ah bom, não gostas de conversar enquanto jantas?!..." Não gostei do silêncio do senhor alto e magro, nem do tom sarcástico do outro. Os silêncios anti-naturais são confrangedores. Mesmo a quem assiste de fora. Levantei-me e fui-me embora.
Por tudo isto, que pode parecer pouco, aquele senhor deixou de ser para mim um dos muitos rostos anónimos com que me cruzo aleatoriamente no meio estudantil.
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sábado, novembro 11, 2006

Extrapolações nocturnas

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As vibrações vão-se comunicando de parede a parede e alcançam as do meu quarto. Apenas um prédio se interpõe entre o sítio onde moro e a discoteca. O sono tornou-se furtivo sob a densidade dos batimentos cardíacos. Qualquer tentativa de lhe voltar a pegar revela-se inútil. As vibrações propagam-se a todos os objectos do quarto. Sobem pelos pés da cama e conquistam-me o corpo e a mente. Ponho-me a imaginar os corpos em movimento, mais libertos que nunca na exígua pista de dança. Gosto do contraste entre máxima liberdade de expressão corporal e a exiguidade de espaço que para o efeito cabe a cada um. E daí a extrapolar o mesmo teor de pensamento para a relativa exiguidade da cama foi um clic...
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Sweets

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Me have a no-problem. Me know. Me love cookies, biscuits, candies, sweeties... Me like this no-problem a lot! Cookie Monster me challenge you!
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Cafetoon

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Ser-se narigudo e gostar-se de cafézinho ao fim do almoço pode converter-nos numa espécie de Batatinha: apenas deambulando pela rua, não faria mais que cumprir um hipotético contrato publicitário firmado com uma qualquer marca de café. Dizer que isso pode fazer as delícias da generalidade dos transeuntes com que nos cruzamos é certamente um exagero. Mas lá que se gera um ou outro sorriso... E o motivo para tal percebe-se quando instantes depois nos olhamos ocasionalmente ao espelho: uma enorme mancha castanha a apalhaçar-nos a ponta do nariz.
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Pinóquios everywhere

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Arianna Papini, Pinocchio

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Se fôssemos todos Pinóquios seria impossível resistir à tentação de nos desafiarmos com um sonoro “en garde”, não seria? Depois também não haveria maneira de saber que lado sairia vitorioso. Onde residiria a verdade? Quem decidiria? Bem, mas isso é outra história... a verdade é que já é tarde para meter aqui ao barulho o mundo da justiça...
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Bolha de sabão

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Chardin, The soap bubble
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Os pensamentos expandem-se, trémulos, como uma bolha de sabão. Uma bolha que cresce desmedidamente, soprada não sei bem porquê, nem a que propósito, nem sei se por mim. Por vezes parece-me que cresce com o único fim de encerrar um vazio crescente. Diria antes: um quase vazio - uma vez que com algum conteúdo há-de ter sido insuflado... mesmo que pelo bocal passem, intermitentemente, os lábios de uma mente à deriva. Não é fácil controlar o tamanho da bolha e muito menos fazê-la perdurar. O seu equilíbrio é instável.
O conteúdo é um pouco como o ar viciado que expelimos de uns pulmões que respiram com dificuldade. Pulmões conscientes das suas limitações, mas que se divertem a reter o ar por demasiado tempo - em auto-desafio.

Um caldo de átomos, ideias indivisíveis chocam umas com as outras. Um caos que nasce do desafio de tomar alguma forma, uma aparência de ordem que no fundo não significa nada. Um exercício oco, sem finalidade.

Com os pensamentos passa-se algo de semelhante a expelir o fumo de um cigarro para o interior de uma bolha em expansão. Confina-se uma pequena nebulosa entre paredes transparentes, o que nos permite observar o quão depressa ela se dissipa.

Estou tentado a afirmar que uma bolha que se expande nada retém, nada aprisiona, mesmo tratando-se de um "nada" confinado dentro dos seus limites. É que os limites são mutáveis a cada instante. E com isso entro no capítulo das linhas divisórias ou, para ser mais correcto, das superfícies, onde cores e reflexos variam imenso à medida que a bolha se dilata. Cores e reflexos são algumas das variáveis de adaptação ao exterior que podemos tentar manipular. Nem sempre é possível aquela transparência líquida que nos permite distinguir o fundo de, por exemplo, um lago. Nessas circunstâncias, quem não manipula, esconde ou disfarça? Se houver alguém que não, que atire a primeira pedra. Duvido que depois consiga vê-la atingir o fundo do lago...

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sexta-feira, novembro 10, 2006

E.A.Poe

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Frank Brunner, Murder in the Rue Morgue
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"Murder in the Rue Morgue"... de um senhor que podia até nem ser grande poeta (confio no juízo frio e enciclopédico e na sensibilidade poética do senhor J.L.Borges), mas que lançou as bases de um novo género literário: o conto policial. Edgar Allen Poe pode ter abraçado a vida (ou foi abraçado) segundo os cânones românticos vigentes, pode ter resvalado alcoolizado e opiado pelas ruas da amargura (sem se poder ver nisso um statement voluntário em prol de um decadentismo em génese), sofreu o seu quinhão, coube-lhe a sua dieta de dores, mas a sua mente atormentada talvez tenha conseguido expiá-la na vasta obra que deixou. Inspirou muitos. Gerações passaram e o seu nome ainda perdura... e se houver nisso ou não alguma forma de expiação extra-terrena, cá estará o corvo para dar ou não da sua sentença, batendo as asas em qualquer janela, bicando o vidro e repetindo "Nevermore, nevermore..."
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domingo, novembro 05, 2006

Infusão de paz tentacular




Gostava de me/te poder dizer: "Sou todo tentáculos para ti!" Podemos sempre diluir o sentido asfixiante com que certas palavras são conotadas. Tentáculos como um abraço com todos os sentidos postos no momento, um afago com muitas mãos. As ventosas aderindo e confortando-me/te as zonas sensíveis e, assim que o desejar(es), desprenderem-se num movimento imperceptível que não faça notar a ausência do toque. E mais do que dizer, gostava de um dia ser suficientemente forte para ser capaz de me/te resgatar das águas frias e trazer-me/te para a luz à superfície nas horas em que o cansaço me/te vence.



2001 : A [true] Space Odyssey - [an evolution thesis]

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Substituição do que me pareceu um ser demiurgo, andrógino e em estado fetal [no filme de Stanley Kubrick (1968)] por esta imagem na linha duplamente evolucionista de uma Demiurga. Porquê "duplamente"? Além de a mostrar em diferentes estapas, a apologia da superioridade feminina na hierarquia evolutiva? A eterna (re)descoberta do corpo feminino enquanto uma das mais verdadeiras space odysseys?
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Alucínios de fígado ao almoço...

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Há que tempos que te fazias ao piso, não era L.? Semanas a fio, a botelha de espumante (cheiita, paradita, coitadita) no armário, à espera por uma festividade qualquer. Aos teus amuos (pronto já estou a levar... não amuaste nada de nada... reformulo: às tuas mais desinteressadas sugestões enófilas...), juntou-se o facto de ter faltado o vinho verde para bem acompanhar um daqueles arrozes (arrozes? isso existe?) à valenciana como só a mãe sabe... Lá se bebeu a garrafita e tu ainda assim insaciável... Os esqueletos deixemo-los estar sossegadinhos no armário, as bebidas é que não... Festa, dependendo do tipo, é qualquer dia à nossa escolha, né? Nisso, nada melhor que acordar de um sono pesado e emborcar uns copitos de espumante. Em família. Alucínios de fígado? Muito aquém, muito aquém...
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Posts que aparecem e desaparecem...

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... como o gato de Cheshire, dono de um dos mais sardónicos sorrisos (talvez motivado pela superioridade que lhe conferem os dons da invisibilidade e da ubiquidade). Pode não parecer, mas a fragilidade da nudez e da exposição passa também por aqui... (isto no seguimento dos comentários que se podem ler no post anterior).

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"Um lento desejo de dançar"* (2)

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Honor C Appleton (1879-1951), Patrick put the pearls in his pocket
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... ao som do álbum "Let us never speak of it" dos Out Hud. Uma feliz descoberta nocturna. Quer dizer... mais a raiar pró diurna... E tal como o Patrick só bato com o pé direito no chão (nada de conotações bráasilêras, atenção). Em ritmo crescendo, noto - quase a abafar a música que se escapa baixinha das colunas (que isto não são horas decentes para mais décibeis). Felizmente, no meu álbum de infância não consta que alguma vez tenha sido obrigado a envergar algo de tão humilhante. Já à desditosa franja (tipo Mireille Mathieux) não pude escapar... Ai a impunidade dos adultos! Sobram as provas fotográficas para a posteridade e ainda assim permanecem intocáveis ao abrigo da lei. Nem a brigada dos costumes e do bom gosto lhes podem tocar ou sequer citar a senhora Bobone. Mudando de assunto... Mas e as pérolas? Então mas é claro que as guardo no bolso, junto ao peito. E quanto àquela ameaçadora entrada à pinto, que dizer?... Ele que nem pense em bicar a perna sã do Patrick e cortar-lhe o desejo de dançar! Bem, já é tarde e os medos piam baixinho...
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* verso de Ana Luísa Amaral.
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Always something's missing

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«TODOS AQUELES QUE PROCURAM VERDADEIRAMENTE SOFREM UMA DESILUSÃO

Cais de Mahogonny. Vindo da cidade chega agora - como antes as pessoas com as malas - Paul, que os amigos procuram reter.

JAKOB
Paul, porque é que vais fugir?

PAUL
E o que é que me prende aqui?

HEINRICH
Porque é que estás a fazer essa cara?

PAUL
Porque vi uma tabuleta
Em que estava escrito: "Aqui é proibido."

JOE
Não tens gin e whisky barato?

PAUL
Barato de mais!

HEINRICH
E calma e harmonia?

PAUL
Calma de mais!

JAKOB
Se te apetece comer um peixe
Podes ir pescá-lo.

PAUL
Isso não me faz feliz.

JOE
Fumamos.

PAUL
Fumamos.

HEINRICH
Dormimos um pouco.

PAUL
Dormimos.

JAKOB
Nadamos.

PAUL
Vamos comer uma banana!

JOE
Olhamos para a água

PAUL só encolhe os ombros.

HEINRICH
Esquecemos.

PAUL
Mas falta qualquer coisa.

JAKOB, HEINRICH, JOE
Maravilhoso é o cair da tarde
E tão agradáveis as conversas que os homens têm entre si!

PAUL
Mas falta qualquer coisa.

JAKOB, HEINRICH, JOE
Tão agradáveis a paz e a calma
E incomparável o esplendor da natureza.

PAUL
Mas falta qualquer coisa.

1
Acho que vou comer o meu chapéu
Acho que isso me vai satisfazer.
Porque é que uma pessoa não há-de comer o próprio chapéu
Se não tem mais nada, mais nada, mais nada para fazer?

Vocês aprenderam o ABC da bebida
Viram a lua brilhar pela noite fora
O bar de Mandelay fechou sem vida
E não há nada, não se passou nada até agora.

2
Acho que fazia melhor em ir para a Geórgia
Acho que pelo menos uma cidade deve ter.
Porque é que uma pessoa não há-de ir para a Geórgia
Se não tem mais nada, mais nada, mais nada para fazer?

Vocês aprenderam o ABC da bebida
Viram a lua brilhar pela noite fora
O bar de Mandelay fechou sem vida
Pois é rapazes, não há nada, não se passou nada até agora.

JAKOB, HEINRICH, JOE
Paul, mantém o sangue frio
Isto é o bar de Mandelay!

JOE
O Paul quer comer o chapéu.

HEINRICH
Porque é que queres comer o chapéu?

JAKOB, HEINRICH, JOE
Estás doido, Paul!

JAKOB
Não, não podes fazer isso, Paul!

JAKOB, HEINRICH, JOE
Tu vê lá até onde vais!
Paul, estás a esticar a corda de mais!
Os três a gritar:
Nós atiramos-te ao chão
Paul, não te largamos da mão
Até voltares a ser uma pessoa!

PAUL calmo:
Oh, rapazes, mas eu não tenho vontade nenhuma de ser uma pessoa.


JOE
Pronto, agora que já desabafaste, voltas calmamente connosco para Mahagonny.

Conduzem-no de volta à cidade.»



* retirado da peça "Ascensão e queda da cidade de Mahagonny" de Bertolt Brecht.
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sábado, novembro 04, 2006

Sonic Youth - Pacific Coast Highway*

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Bonnie and Clyde (1967) de Arthur Penn - Warren Beatty& Faye Dunaway.

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Come on get in the car
Let’s go for a ride somewhere
I won’t hurt you
As much as you’ve hurt me
Let me take you there
Before the sun goes down
Come on give me your love
Come on baby, all you have
I wanna take your breath away
Come on baby
Just like that, you say
You make me feel so crazy
Come on get in the car
Let’s go for a drive somewhere
I won’t hurt you
You make me feel so crazy
Come on get in the car
Let’s go for a ride somewhere
I won’t hurt you
As much as you’ve hurt me
Let me take you there
Before the sun goes down
Come on give me your love
Come on baby, all you have
I wanna take your breath away
Come on baby
Just like that you say
You make me feel so crazy
Come on get in the car
Let’s go for a ride somewhere
You make me feel so good
You make me feel so crazy

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* 7ª faixa do álbum "Sister" (1987)
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Road movie

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Fade in para o enigmático close-up de um polegar em riste a pedir boleia - como para uma viagem de sonho - à linha contínua que divide ao meio o enquadramento do ecrã.

“Carrinha velha aos solavancos, detém-te! sob o poderoso feitiço deste talismã oponível!”

Do pára-brisas: o esfumado negro da apreensão, de um mau pressentimento, dos perigos que acompanham geralmente os passos de um estranho pelas bermas solitárias.

No retrovisor: o brilho esmaltado de um sorriso ensaiado a disfarçar um arrependimento.

As mãos trémulas sobre o volante ante o vício do silêncio, em fingida e alienante condução pelos locais da incomunicabilidade entre os Homens - tão unidos à nascença pela viagem comum, mas renitentes à sua verdadeira acepção.

O road-movie prossegue, alucinante, pela paisagem do medo, pelos marcos da dilação de equívocos e embaraços, mas sem que nunca o espectador anseie pelo fade out.

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The serpent's temple

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Ears (unfortunately) wide open

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Há bastante tempo que uma viagem de expresso não me proporcionava um curso tão aprofundado e intensivo de calão. Dá-me gozo (antes devia dizer tristeza) dar-me conta da quantidade de alarvidades que um “semi-puto” (aluno com duas matrículas) é capaz de destilar num espaço temporal de apenas uma hora e um quarto. Dá-se-lhe um desconto por ele provavelmente ainda estar a destilar os vai-acima-e-vai-abaixo de toda uma semana?
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Infantilize me

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"Sermões" até rima com "telecomunicações"... A minha quota de juízo e o "Independance Day" para quando? (Nota à parte: não se trata de um request para uma sequela do ominoso filme. Isso seria um retrocesso não à infantilidade, que é pura e ingénua, mas uma regressão ao neurónio pipoqueiro.)
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sexta-feira, novembro 03, 2006

1º reset do dia

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Começar o dia de camisa limpa e engomada, e não fazer caso algum por não ser a nossa preferida.
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Sorrisos Colgate

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Distúrbio moderno que veio para durar: a síndrome do sorriso permanente. Uma de várias implicações: gastos exorbitantes em branqueamentos dentários.
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Com alma, desta vez...

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Chorei a alma. Chorei com alma. Com a minha alma. Alma e solidão não se confundiram: desta vez contei com ajuda para abrir o pacote de lenços.
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Nunca choro...


Não consigo abrir um simples pacote de lenços, sem que ele se rasgue. Talvez por isso sempre tenha contido o choro.



Só que eu nunca choro...

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Foto de Man Ray

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Lágrimas salgadas de derrota cristalizaram nos cantos dos olhos inquietos. Só que eu nunca choro.

in "A Casa do Incesto" de Anaïs Nin.
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