Desejo de sal e mar
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Georgia O'keeffe, Pelvis with the Distance
.Sentadinho no meu modesto quarto de estudante, às voltas com papéis intragáveis, chegam-me gemidos de um dos quartos vizinhos. Apanham-me como numa ondulação, mas debato-me para não ser levado na crista. Pouco a pouco, a minha morada passa a ser uma aprazível casa de praia. Os sons, ao tentarem intrometer-se dentro de casa, vão sendo adocicados ao longo da fachada aquecida pelo sol. A percepção vem do fundo dos corredores e contém promessas de alcova. E o mar sempre ali ao pé, vigoroso e calmo ao mesmo tempo. Esse que devora espaços de nós, arrastando aluviões de sedimentos, deixando em nós a marca de uma enseada - sempre latente, sempre por preencher. Sob a superfície dos pensamentos, entre cada fracção de segundo que medeia cada uma das nossas acções - vislumbres do mar e da enseada.Claro está que se quero voltar a fazer alguma coisa de jeito com a papelada à minha frente, é forçoso que coloque os phones nos ouvidos e vá aumentando os decibéis até abafar as ondulações. A partir daí é só uma questão de lidar com a torrente de imagens prestes a transbordar daquele copo particularmente sensível e sugestionável, que a todo o instante reclama a hegemonia do meu cérebro. E não seria difícil chegar à embriaguez. Por isso, se quero retomar o estudo, nada de o encher até ao topo com a água simultaneamente doce e salgada desse mar. Nada de andar a encher copos e preencher o vazio da enseada..
1 Comentários:
Aprender truques? Do género vocalizações in action? O que se passa é que as vocalizações que chegam até a mim, são apenas as femininas. Desculpa lá, mas não me estou a ver a fazer voz fininha... :) Quanto a protecções... eu acho é que daqui em diante tenho de me proteger mais no teor dos meus posts, para não arramjar lenha com que me queimar :) Andaste a mostrar o meu blog a outras pessoas e o primeiro post que aparecia dizia "Gemido"... contextualizaste, é certo, mas ainda assim... :)
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