domingo, abril 30, 2006

A Revolta dos Pastéis de Nata



Provar para crer! Então não é que a 3ª série da Revolta dos Pastéis de Nata ainda tem mais nata?!

P.S. Ora bolas! Nunca há o raio de um pastel de nata cá em casa, quando é altura de ver o programa. Para a próxima tenho mesmo que me precaver, senão ainda dou uma dentada no ecrã...



Cada vez mais raro nos dias de hoje


«Acerca daquilo de que se não pode falar, tem de se ficar em silêncio»
Wittgenstein in Tractatus, 6.54

Os temas mais caros à humanidade como a vida e o seu sentido, o amor e a morte, têm sido discutidos desde tempos imemoriais; contudo, continuamos sem saber grande coisa sobre cada um desses mistérios. As palavras correm em catadupa, mas simplesmente não chegam lá.

Há alturas em que o silêncio vale mesmo ouro, em que as palavras estorvam mais que um carro estacionado em segunda fila. E hoje em dia parece que temos de ter uma opinião formada sobre tudo, uma adenda na cartola para todo o tipo de conversas e situações. Não há assunto que não seja escrutinado e a verborreia nunca teve tantos meios para se auto-propagar: telemóveis, blogues, jornais, revistas, etc... (é pá! isto pode ser preocupante: interesso-me por estes quatro exemplos que dei e podia dar mais alguns).

Por isso digo que parece cada vez mais raro nos dias de hoje: haver quem viva de forma intensa, mas em silêncio, aquelas experiências que de alguma forma nos ultrapassam. Falar nessas alturas é uma pedrada que destoa e arriscamo-nos a não dizer mais que meras banalidades.


“Em busca da piada perdida”


- Autor: Gato Fedorento
- Nº de volumes: ainda por contabilizar
- Estreia do próximo volume: Sexta-feira à noite
- Editor: RTP 1


- Pergunta hipotética de um espectador inquieto:

«O Gato tem estado muito aquém das expectativas... Para quando o volume intitulado “A piada reencontrada”?»



Há Dumbos e Dumbos...


Dumbos que passam uma vida inteira a pensar na utilidade a dar às suas grandes orelhas; outros que de um momento para o outro fazem delas asas e aprendem a voar sem realmente se darem conta.
P.S. No sábado à noite, passados tantos anos sem nos vermos, tive este agradável reencontro com um velho amigo de infância.


Este blogue tem estado assim...



Simples soneira ou meditação?...



domingo, abril 23, 2006

Lyrics... an echo in my mind (3)



“All you ever wanted is love,
but you never looked hard enough,
its never gonna give itself up”

Coldplay – “Low” (do álbum X&Y)



sábado, abril 15, 2006

Interstícios de vida em blogue ausente

Blogo, logo existo!... Mas será que vivo nessas alturas?

O que me inspira a blogar: a minha vida ou a ausência dela? Convoco a imagem excessiva, certamente bem viva na memória colectiva, do Ground-Zero para dar uma ideia do que por vezes sinto ser a minha não-vida actual: no meu caso, uma extensa área de destroços, para qual têm faltado projectos consistentes de reconstrução, mas sobrado hesitações para dar e vender nas barraquinhas que tenho montado nessa mesma área.

Nos últimos dias não tenho blogado e assim concluo, só para me manter fiel ao aforismo, que não tenho existido. O não existir na blogosfera, parece ter o seu paralelo na vida real ou será o contrário? Mas será que ao menos tenho aproveitado essa folga para viver realmente e para tentar reedificar-me de entre os destroços?



sábado, abril 08, 2006

Citação (7)


As pessoas que tomaram a sua decisão acerca de um homem não gostam que as mesmas opiniões sejam alteradas, de terem de inverter as suas avaliações devido a novas provas ou argumentos, e o homem que tenta compeli-los a mudar de ideias, está, no mínimo, a perder tempo, podendo mesmo meter-se em sarilhos.

John O’Hara


quinta-feira, abril 06, 2006

“Riquezas Humanas” ou então, simplesmente, "Pessoas"

Estou bem ciente de que vou ser alvo de chacota, mas enfim... quem tem blogue e não refreia o que tem para dizer sujeita-se a isso. Este post foi em grande parte motivado por me ter recordado, sem saber bem porquê (a memória tem destas coisas...), de um filme de Laurent Cantet que já vi há bastante tempo, precisamente intitulado “Recursos Humanos”. Pois bem, vou directo ao assunto. Não acham que se deveria banir do jargão empresarial a infeliz expressão “recursos humanos” (acho-a tão pobre, tão materialista, tão utilitária, como se se equiparassem pessoas a meros objectos descartáveis...) e, ao invés, passar a utilizar a expressão mais humanizada “riquezas humanas”? Vá riam-se à vontade! Mas para mim, que acredito que o mais importante neste mundo são as pessoas, faz todo o sentido. Pessoal e intransmíssivel (jogando com o título do programa do jornalista da TSF: Carlos Vaz Marques), é a riqueza que cada pessoa encerra em si e deveria ser olhado por todos como um tesouro que merece a pena vislumbrar, e, às vezes, até mesmo esforçarmo-nos por vislumbrar.


Não é tarefa fácil e é preciso merecer um tal desvelamento. À beleza interior de quantas pessoas, pode cada um de nós afirmar ter acedido sem qualquer entrave? Amizades assim tão profundas não abundam certamente por aí. Porém, também do meu ponto de vista e com certeza que muitos serão da mesma opinião, quando se fala de amizade, a quantidade é largamente suplantada pela qualidade. Mais vale poucos mas bons! Mas ainda assim, não se devia cair no erro tão comum, de remeter friamente à indiferença as pessoas que não conhecemos tão bem, sobretudo se na base dessa atitude estiver algo tão mesquinho como negar-lhes o potencial de possuírem também elas igual riqueza e valores únicos, só pelo facto de ainda não lhes termos reconhecido tal potencial ou de termos desistido de o procurar.



Citação (6)

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"Citação: acto de repetir de maneira errada as palavras alheias."


Ambrose Gwinett Bierce

P.S. Sinto que me estou a tornar numa das piores espécies de parasitas: a do citador compulsivo.

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Raios X: antídoto?

Hoje sinto-me ionizado... Pudera! Só ontem e hoje devo ter feito ao todo umas seis radiografias... Quem sabe se não vem uma mutaçãozinha genética a caminho? A ser verdade, que seja tipo X-Men, para ver se saio desta mediania...



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quarta-feira, abril 05, 2006

Feedback terráqueo


Gostaria que todos os meus posts, à medida que saíssem, fossem alvo dos mais díspares comentários, em tudo semelhantes com o esquadrinhar, por parte dos terráqueos, das feições dos extraterrestres que sucessivamente se apeassem de um estranhíssimo objecto, levemente aparentado com um ovni, que tivesse aterrado na blogosfera. Eu sei que é pedir muito. Nem estes posts atraiem pela extravagância, como também versam sobre banalidades que não interessam a ninguém. Paciência! O homem sonha e a obra nasce, nem que esta esteja apenas fundeada na sua mente...


Poetry (4)



Sou

Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.


Jorge Luís Borges
tradução de Fernando Pinto do Amaral
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terça-feira, abril 04, 2006

Não havia necessidade

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Sempre que volto a entrar no meu blogue, como quem regressa a casa depois de um dia difícil, costumo ficar por uns instantes com a impressão de que deixei a casa desarrumada ou que alguém andou a remexer nas minhas coisas... Só depois de um rápido inventário a inteirar-me dos meus posts, é que percebo o motivo para isso: isto de colocar poemas meus, num acto um tanto ou quanto irreflectido, é que não havia necessidade...
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Questões em pleno vôo


Quantos astros ao certo povoam o vasto universo?
Quem estica esta imensa corda inelástica?
Alguém segura na ponta dos dedos
(pinças criadoras, aparadoras do primeiro impulso)
este extenso leque de extremidades pulsáteis?

Quantas pessoas caminham neste preciso instante,
pelas ruas de todo o mundo? O que as faz correr?
Para onde vão tão céleres que não atentam em nada mais?
Porque tomam por esta via e por aquela não?
Mas que olhar frio e distante despendem umas às outras!
Serão incapazes de um esboço mais humano?
Mesmo que pálido, a intenção de um gesto inconformado?

Parece que todos os caminhos desembocam naquela praça lúgubre,
chamada Civilização, onde há anos se vêm montando embustes.
Vidas que se cruzam e assistem ruidosamente ao mesmo espectáculo,
ou figurantes sem nome numa peça inacabada e sem deixas.

Mas que género de conversa podem entabular dois estranhos?
Ouvirão realmente alguma coisa no meio da confusão dos bares e cafés?
Que onda varre, nestas salas de encontro ilusório,
o calor que emana dos seus corpos?
E de onde vêm as lágrimas que ofuscam os risos daqueles?
Que confessa este, cabisbaixo, e vergado por que culpa,
enquanto que ela, à sua frente, retém o avolumar do choro?
Porque abandona ela de repente o seu lugar,
sem que ele tentasse sequer consolá-la?

E agora... quem se detém ali à sombra do plátano,
mascando pastilha elástica e fixando o olhar no horizonte?
E o peso que este carrega às costas,
porque não o reparte com os ociosos
que admiram e vigiam a obra?

Para quando as respostas para tudo isto?
Para quando as respostas a perguntas sem sentido?


2004


Espectros do passado


Amassar os espectros do passado
que a qualquer hora do dia
nos revisitam num fulgor anacrónico...

26/8/2003


Poetry (3)



À Minha Alma

Sempre tiveste a rama preparada
para uma rosa justa; andas alerta
sempre de ouvido quente à porta certa
do corpo teu, à flecha inesperada.
Nenhuma onda acaso vem do nada
que não arraste de tua sombra aberta
a luz melhor. De noite, estás desperta
em tua estrela, à vida desvelada.
Signo indelével pões às próprias cousas.
E logo, feita glória de altos cumes,
reviverás em tudo quanto selas.
Tua rosa será norma para as rosas;
o que ouves, da harmonia; e dos lumes,
o teu pensar; e teu velar, de estrelas.


Juan Ramón Jiménez
tradução de Jorge de Sena
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Simplex: Detergentes, Burocracia, Poluição e Sinistralidade


Qualquer dia deixará mesmo de ser necessário sair de casa - que cenário tão concentracionário... Das motivações do governo respeitantes ao pacote de medidas baptizado com o nome Simplex (soa a marca detergente - que por acaso até existe -,

talvez porque se pretende dar a ideia de que com estas medidas simples, quais agentes tensioactivos, se procederá a uma lavagem em profundidade, com a consequente eliminação de nódoas que têm vindo a acumular-se e a denegrir - e de que maneira - a reputação da nossa burocracia), umas são bem conhecidas, mas diz-me a minha imaginação que haverá outras mais secretas, mas igualmente benéficas.


Assim, ao apelar para que as pessoas recorram cada vez mais à net para cumprirem as suas formalidades cívicas, o governo consegue numa só jogada várias proezas assinaláveis. As mais óbvias e propagandeadas consistem na redução e simplificação da carga burocrática que tem emperrado há anos a nossa administração pública e uma maior celeridade e comodidade para o cidadão. Mas, além disso, por vias sub-reptícias – e aqui entra a minha capacidade (pouca) efabulatória e alguma ingenuidade – pode talvez conseguir-se com estas medidas uma redução da sinistralidade rodoviária e das emissões de gases poluentes: o que seria um grandioso feito... Pois, mas eu por vezes não resisto a levantar os pés do chão e flutuar entre universos possíveis...



Continuando a fábula... Doravante, muitos cidadãos poderão tratar dos seus assuntos em casa, não tendo que se deslocar com tanta frequência às diversas repartições nos respectivos carros. (Obviamente que este ponto só vale para os que se delocariam de automóvel). Poupar-se-ia assim um pouco a nossa atmosfera, bastante maltratada nestes últimos anos por sinal. Todos nós sentimos os efeitos negativos da desproporcionalidade que existe entre as curtas distâncias transpostas (no geral, julgo que sejam curtas) entre casa e entre repartições e a quantidade de emissões poluentes que se soltam dos tubos de escape ao longo desses pequenos trajectos.


Outro aspecto mais ou menos evidente: uma menor circulação nas rodovias urbanas, pode reflectir-se numa diminuição da sinistralidade.


P.S. Please... não dêem muito crédito a este post...



segunda-feira, abril 03, 2006

Lyrics... an echo in my mind (2)



Coldplay – “Talk” (do álbum X&Y)

Oh brother I can't, I can't get through
I've been trying hard to reach you, cause I don't know what to do
Oh brother I can't believe it's true
I'm so scared about the future and I wanna talk to you
Oh I wanna talk to you

You can take a picture of something you see
In the future where will I be?
You can climb a ladder up to the sun
Or write a song nobody has sung
Or do something that's never been done


Are you lost or incomplete?
Do you feel like a puzzle, you can't find your missing piece?

Tell me how do you feel?
Well I feel like they're talking in a language I don't speak
And they're talking it to me


So you take a picture of something you see
In the future where will I be?
You can climb a ladder up to the sun
Or a write a song nobody has sung
Or do something that's never been done
Do something that's never been done

So you don't know were you're going, and you wanna talk
And you feel like you're going where you've been before
You tell anyone who'll listen but you feel ignored
Nothing's really making any sense at all
Let's talk, let's ta-a-alk
Let's talk, let's ta-a-alk


Sinopses & Leituras: "Singularidades de uma rapariga loira"



"Singularidades de uma rapariga loira" de Eça de Queirós

Conto de Eça, dos mais lidos ao que julgo, que narra o falhanço amoroso do sr. Macário, velho sexagenário, que dá largas a uma confidência sentida numa estalagem do Minho. A dada altura diz: "É a paz que dando os vagares da imaginação - causa as impaciências do desejo."

Macário rememora a sua antiga paixão juvenil pela jovem Luísa Vilaça - a loira singular a que alude o título -, e ainda os esforços e sacrifícios que terá suportado para granjear uma posição mais favorável que lhe permitisse desposá-la. Estando já de data marcada para o casamento, Macário descobria atónito, na ourivesaria, uma faceta singular de sua noiva Luísa que até então lhe era desconhecida - o seu pendor para o roubo, a sua pulsão cleptomaníaca - o que, fazendo eco junto de um estranho episódio que já anteriormente intrigara Macário, acabou por ditar a ruptura do noivado.

P.S. Leiam que vale a pena!


Lyrics... an echo in my mind (1)


I just don’t know what to do with myself...”

The White Stripes
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Citação (5)



A solução para esse absurdo que se chama «eu existo», a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.”


Clarice Lispector in “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”, p.135, ed. Relógio D’ Água.



Citação (4)

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"Como é frágil o coração humano - um latejar, um frémito, luzente instrumento de cristal que chora ou canta"

Sylvia Plath
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Poetry (2)

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ANATOMY OF AFRICAN PATHOS

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The African
Suffers poverty
Differently
From humans

The African
Suffers pain
Differently
From Humans.

The African
Sorrows, bereaves
Differently
From humans

The African
Suffers torture
Differently
From humans
Because the African pain
Is painless pain.

The African
Starves differently
From humans
Because it is African
To starve.

The African female
Endures rape
Quite differently
From women

The African child
Is a child soldier
A slave child
Or a mere street child.

The African migrant
Is an illegal migrant:
No citizen
But a refugee
In his home.

The African dies
Differently
From humans.

The African’s
Birth mark
Is a black scar

The African
Is African:
Not human.

That is why
African leaders,
A little more African
Than Africans,
Insist on
African solutions
To the African
Pathos.

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CHRIS MAGADZA

Harare, 2005

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Citação (3)



"Encontrar palavras para aquilo que temos diante dos olhos é qualquer coisa que pode ser muito difícil. Mas quando chegam, batem com pequenos martelos contra o real até arrancarem dele a imagem, como de uma chapa de cobre."
Walter Benjamin in "Imagens de Pensamento", p.184, ed. Assírio & Alvim.
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Poetry

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"Tu e as palavras: não mais,
solidão por excelência;
clarins, arcos triunfais,
não cabem nesta existência (...)"

Gottfried Benn
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domingo, abril 02, 2006

Weekend's salvation came from heaven...


Thank you Aimee Mann!


Citação (2)

Um post de uma amiga minha,

suscitou em mim uma premência de voltar a folhear o meu caderninho de citações, numa senda da qual apenas me dei por satisfeito ao deparar-me com esta frase de George Sand:


A partir do momento em que a vida se torna suportável, já não carece de análise. Arruinaremos um dia de sossego se teimarmos em dissecá-lo ao pormenor

P.S. Em oposição ao que acima é citado e para dar que pensar um pouco, aponho a seguinte alusão, que creio ser de Aby Warburg, de que Deus se esconde no pormenor.



“School of Rock / Escola de Rock”

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Ontem vi “
School of Rock / Escola de Rock”, um filme de Richard Linklater, realizador que tenho em boa conta por ser autor de dois filmes que me marcaram muito: “Before Sunrise / Antes de Amanhecer” e “Before Sunset / Antes do Anoitecer”. Mas não é destes que agora quero falar, até porque se começasse nunca mais parava...

Pelo trailer e pelas críticas que li, estava bem ciente que este era um filme menor na sua filmografia, mas, para minha fruição, pus de lado todas essas ideias pré-feitas e devo dizer que achei muita piada ao filme. O que obviamente para mim funcionou como verdadeiro chamariz foi o seu actor principal. Falo de Jack Black (que num dos extras do DVD, se intitula a si próprio de “Tigre Branco”), e que sem surpresas “enche” o ecrã com o seu desempenho histriónico, transbordante de energia, com a sua entrega incondicional de corpo e alma (na pele de um músico medíocre e de um professor encapotado) a um ideal da música Rock enquanto escape e libertação de todos os grilhões impostos pela sociedade e pelos muitos “Men” (expressão que ele utiliza para significar todo aquele que exerce algum tipo de poder, sejam pais, professores...) que dos seus cargos deliberam à sua vontade as directivas que as massas conformadas não terão senão que obedecer. A exploração do tema rock'n'roll enquanto antídoto para males como o desinteresse e o conformismo não é propriamente novo, mas também não me parece que tentar ser original esteja nos horizontes despretensiosos deste filme. Seria muito bom se, em vez de querer à força toda significar mais partindo de matéria-prima insuficiente, todos os realizadores de pequenas comédias seguissem este exemplo e trabalhassem no sentido de obter um objecto coerente e em conformidade com os ingredientes de partida. Mas isso talvez seja pedir muito...


Foi no “High Fidelity / Alta Fidelidade”, filme de Stephen Frears, que pela primeira vez reparei neste actor, um verdadeiro “cromo”, expressão que aqui utilizo sem qualquer espécie de sentido pejorativo. O acaso ou talvez não, quis que neste mesmo fim-de-semana aterrasse pela primeira vez no meu leitor de cd’s um álbum – Zeppelin III - dos Led Zeppelin. Quem viu o filme “Escola de Rock”, não se esquecerá tão cedo do breve trecho inicial de “Immigrant Song” cantarolada pelo próprio Jack Black. Parti-me a rir com as carantonhas e com a sua entoação de voz à la Robert Plant, enquanto na minha mente tentava contrapor a versão original e a deste “cromo”...

Citando Marcelo Baptista (Crítica do Leitor), trata-se de: "Um filme que mostra a paixão por esta arte que contagia o mundo chamada rock'n'roll." Um filme despretensioso para quem gosta de rock'n'roll e de umas boas risadas...

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My weekend, so far (2)

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Sailing through the blogosphere
with burning eyes...
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Citação (1)

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"A nossa condição humana é inimiga de tudo o que é infinito"

Primo Levi

"Le silence éternel des espaces infinis m' effraie"
Pascal
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My weekend, so far



sábado, abril 01, 2006

Tribuna solitária

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Face à imensidão que caracteriza a blogosfera, julgo ser remota a probabilidade deste blogue ser lido por outra pessoa que não eu, ainda mais do que se mantivesse o tradicional diário, fechado a sete chaves numa gaveta. Como é a reflexão e a auto-irrisão, e não apenas a partilha, que me move, não será isso que me irá demover desta tribuna, ainda que solitária e aparentemente sem feedback.
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Palavras & incógnitas

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Calcam-se as letras sinuosas de palavras incógnitas,
de sentidos apreendidos num pestanejar de cegos...
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O Evadido

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O alarme viola a noite silenciosa, dispara o alerta persecutório na prisão. O frenesim de guardas pelos corredores é absorvido pelos presos nas exíguas celas. Os portões abrem-se ante a veemência dos latidos. Os guardas são puxados por cães corpulentos, presos pelas coleiras tensas. Principia a caça ao evadido.

Sentidos aguçados. Respiração ofegante. Atravessar rápido de um baldio; agachado. O restolhar da erva seca. Mais adiante, uma frente de casas. Acendem-se luzes em algumas janelas. Medo de ser descoberto: palpitações. Forçado a tomar um desvio e rápida colagem às paredes do saguão. Latidos que se aproximam. Num canto escuro, umas escadas: uma tábua de salvação.
Uma janela entreaberta, a cozinha, o hall de entrada. Dependurado na parede, um retrato de uma personalidade conhecida. Da sala: o berreiro na televisão. Do quarto: o bater monótono de uma velha máquina de escrever. Um escritor sexagenário em trabalhos de paciência. Redacção das últimas linhas. Capítulo final do ansiado novo romance policial. O ranger inesperado da porta. A presciência de um vulto atrás de si: a mulher que vem dar as boas noites. O silêncio da máquina. O arco de um olhar. O corpo maciço de um estranho ofegante: “Vim acabar o seu livro!”. Um baque violento. Mergulho de cabeça sobre a máquina. Pingos de sangue distribuídos pelo texto, como sinais de pontuação.
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2/4/2005