Questões em pleno vôo
Quantos astros ao certo povoam o vasto universo?
Quem estica esta imensa corda inelástica?
Alguém segura na ponta dos dedos
(pinças criadoras, aparadoras do primeiro impulso)
este extenso leque de extremidades pulsáteis?
Quantas pessoas caminham neste preciso instante,
pelas ruas de todo o mundo? O que as faz correr?
Para onde vão tão céleres que não atentam em nada mais?
Porque tomam por esta via e por aquela não?
Mas que olhar frio e distante despendem umas às outras!
Serão incapazes de um esboço mais humano?
Mesmo que pálido, a intenção de um gesto inconformado?
Parece que todos os caminhos desembocam naquela praça lúgubre,
chamada Civilização, onde há anos se vêm montando embustes.
Vidas que se cruzam e assistem ruidosamente ao mesmo espectáculo,
ou figurantes sem nome numa peça inacabada e sem deixas.
Mas que género de conversa podem entabular dois estranhos?
Ouvirão realmente alguma coisa no meio da confusão dos bares e cafés?
Que onda varre, nestas salas de encontro ilusório,
o calor que emana dos seus corpos?
E de onde vêm as lágrimas que ofuscam os risos daqueles?
Que confessa este, cabisbaixo, e vergado por que culpa,
enquanto que ela, à sua frente, retém o avolumar do choro?
Porque abandona ela de repente o seu lugar,
sem que ele tentasse sequer consolá-la?
E agora... quem se detém ali à sombra do plátano,
mascando pastilha elástica e fixando o olhar no horizonte?
E o peso que este carrega às costas,
porque não o reparte com os ociosos
que admiram e vigiam a obra?
Para quando as respostas para tudo isto?
Para quando as respostas a perguntas sem sentido?
2004
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