domingo, maio 24, 2009

Era maximalista

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Gustave Moreau, Heracles y la Hidra de Lerna (1876)

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O spam, esse maldito penetra, Hidra de Lerna de cabeças replicantes, com a sua esfera de acção massificada, tão ou mais osga que um anúncio às Chiquititas*, e a sua quase ilimitada área de influência, amplificou esse pernicioso fenómeno de cariz psico-sexo-sócio-cultural: o maximalismo, cuja primeira permissa assenta no more is more. A mensagem não podia ser mais simples e directa. Nem a matéria das mais sensíveis, dado que poucos serão os que de algum modo não se sintam postos em causa. Daí que, com elevada probabilidade, siga direitinha ao alvo. É o que se chama fazer jogo baixo.
* vejam só ao tempo que tinha isto no meio do entulho dos rascunhos. O facto de ao menos uma das pragas ter sido debelada do nosso campo visual é motivo de salutar regozijo, aliás, a única valia na repescagem anacrónica deste texto.


quarta-feira, maio 13, 2009

Áptero, malgré lui

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O tempo é como um avião sem caixa negra, cuja rota nunca poderá ser uma linha recta. Conhecemos-lhe os pontos de partida e vagamente os de chegada. Sabemos que voou, que passou célere, mas não fazemos ideia por onde. Chegará o dia em que se despenha sem deixar registo. E com uma pontinha de sorte, tudo muito limpinho, sem vestígios, nem destroços.


terça-feira, maio 05, 2009

O censor vigilante

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O lápis azul não se desgruda dos dedos.
Nunca estarei nestas linhas. Fiz-me
eternamente refém desta pessoa que assina.
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Never-ending horror

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A notícia não é nova, bafienta até, mas tropecei nela há dias. A ideia de Hitler ter deixado descendência, fez-me reviver os medos com que a saga 'Alien' me pregava ao sofá: a suspeita da hedionda criatura ter, in extremis, arranjado novo hospedeiro, o que, invariavelmente, obrigaria à realização de nova sequela. Por mais infundada e descabida que seja a analogia, é como se as palavras "eterno retorno" ecoassem de uma sentença testamentária ainda por cumprir...
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Hinnerk

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Desde que li "Jerusalém" do Gonçalo M. Tavares, nunca me pareceu tão real a perspectiva de que todos os males contemporâneos possam aglutinar-se num só nome. E o mal muda de rosto para ser sempre o mesmo.
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Regra de Lamarck

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O uso faz o músculo (qualquer coisa assim) e isto de escrever está mais que enferrujado. Mas uma coisa vos peço: não me façam o encefalograma tendo por base o que escrevo. Que todo aquele que escreve é um fingidor. E já nem me refiro a poetas e prosadores.
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Stream of unconsciousness

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Em modo 'corrente de inconsciência'. Numa tentativa vã de varrer as teias de aranha de um canto para o outro.
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O meu nick é Beat

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- Se pudesse reencarnar? Sem hesitar: reencarnava como beatnik...
- Ó meu imbecil, reencarnar não é voltar ao passado!
- Mas quem disse que os gajos já eram pasto?
- Hmm... Falas de um revival?
- O movimento nunca morreu, pá! Basta um tipo pôr-se a jeito, com guitarra e sacola às costas, meter-se à estrada... polegar em riste (um instinto que nasce com todos)... é quanto basta para te sentires transportar a chama olímpica. É um cena perene, uma comunhão que não se apaga...
- Entre outras coisas, acho que a ganza te faz mal.
- É um artefacto, para as horas vagas. Não vem daí mal ao mundo.
- Só coerência e discernimento, suponho... Mas olha lá, já leste o Kerouac? Ou o Ginsberg?
- Umas coisas. Aqui e ali. E na sacola levo o manual.
- Qual deles? O Pela estrada fora?
- Lógico. Brincas?
- E pensas ir aos Estates?
- Ya.
- De polegar em riste?
- Lá me hei-de desenrascar. Talvez arranje trabalho a bordo de um navio.
- O tramp steamer deu-te volta ao miolo, foi o que foi. Acabas é indo para a Noruega pescar bacalhau, que te quilhas.
- E era mau? Apeava-me nos portos e aventurava-me na senda de belas nórdicas a quem dedicar poemas, dedilhar acordes...
- Havias de dedilhar muito com os dedos rachados do frio.
- Fogo! Que cortes que tu me saíste...
- Ó meu, de amigo para amigo: acorda! Já vem sendo tempo.
- Sabes qual é o teu problema? O cagaço. Parece que te empalou de feição, a modos que nem morres, nem vives, nem deixas viver... Orienta-te, bolas. Não te excluas. Há lugar para ti. Para todos. Não me cortes é os sonhos pela raíz.
- 'Tou a ver. Já a erva te sai pela boca...

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