quarta-feira, maio 31, 2006
quinta-feira, maio 18, 2006
Improvisos
Desde os tempos em que calejava os dedos a aprender os primeiros acordes e me esforçava por tocar algo vagamente aparentado com Nirvana (todo o aspirante a guitarrista amador da minha geração não podia prescindir das tablaturas dos gajos...), lá consegui evoluir à custa de muito improviso - por conta própria e risco dos outros - do muito mau para o razoavelmente menos mau. Ainda assim, aconselho, a todos os meus familiares e não só, muita cautela e sobretudo distância em relação ao bastião onde ocorrem os meus ensaios a solo. É que não me apetece arcar com processos judiciais por danos irreparáveis nos tímpanos de quem quer que seja.
quarta-feira, maio 17, 2006
Ecos do passado percutidos ao longo do filme “Mean Creek / Pequena Vingança”
Comer e calar não é certamente a melhor forma de se ganhar o respeito de alguém. Mas também não acho que a solução passe por pagar na mesma moeda. Então... que se transacione na altura certa segundo o câmbio mais apropriado? Não é fácil lutar contra esse impulso primário. A verdade é que regermo-nos pela lei de Talião (olho por olho, dente por dente) só perpetua a teia de vinganças. Novos males e desentendimentos serão gerados, numa escalada de consequências negativas que nunca se sabe muito bem até onde podem chegar.
E tudo isto a propósito deste filme de Jacob Aaron Estes. Só que no filme, o tal grupo de amigos conseguiu entrever no suposto “inimigo” (“George”) uma faceta oculta e vulnerável, muito para além das suas gabarolices. Este terá ganho uma dimensão humana insuspeita ao demonstrar possuir sentimentos à partida vedados pela tal “capa” do brigão. Não era tanto o caso de serem invisíveis aos olhos dos que nunca lhe prestaram a devida atenção, porque a culpa residia sobretudo nele, dadas as suas inseguranças e o seu receio em mostrar o seu outro lado.
segunda-feira, maio 15, 2006
Coincidência ou exercício pedagógico?
No Primeiro Jornal da SIC, da tarde de hoje, o seguinte alinhamento noticioso de que vos vou falar deu-me que pensar. A primeira peça noticiosa dizia respeito à onda de violência que varre a cidade de São Paulo e culminava com o presidente Lula a reiterar que o investimento na educação seria essencial para debelar o número de bandidos no país e formar mais doutores. A reportagem que de imediato se sucedeu a esta dava conta de uma burla praticada por um doutor. Ambas as notícias tinham como denominador comum o terem ocorrido no Brasil. Ainda assim pergunto: terá sido esta sequência de notícias uma mera coincidência ou antes um apontamento súbtil sobre a evidência de que um canudo e valores morais não andam necessariamente de mãos dadas?
Não me apetece...
Há dias em que simplesmente não me apetece. Viro-me para o lado no travesseiro e digo: “Hoje não... dói-me a cabeça!”, ou então: “Estou demasiado cansado para isso...”
Antes que alguém se interrogue, esclareço que não estava a desfiar o rol de desculpas matrimoniais. Referia-me a não me ter apetecido um post nestes últimos dias de ausência.
quinta-feira, maio 11, 2006
Achtung! que é caso para festejar...
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Um dos meus blogues preferidos incluiu o meu na sua lista de "Valem a pena". Para festejar vou ouvir o Achtung Baby. Na minha opinião, o álbum desses dubliners que nunca passará de moda.
quarta-feira, maio 10, 2006
Um presentinho pró Freud
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Toma lá, tio Freud, esta prendinha pelos teus 150 anos! Com alguns dias de atraso, é certo... e em parte também por isso levo as mãos à cabeça.
A avaliar pelo que tenho lido, ao longo das minhas expedições pela blogosfera, fiquei com a impressão que o tio Freud terá desembrulhado vários presentes muito idênticos a este. Mais uma vez não premeei pela originalidade...
A ciclópica Enciclopédia da Mente (2)
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Depois do Darth Vader, a minha disposição não dá para muito mais... Só me resta mesmo inserir o 2º tomo da ciclópica Enciclopédia da Mente (clique para ler o tomo nº1 e o tomo nº3).
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Tomo 2: Domesticadores Artificiais & de Carne e Osso & e o Status
É certo e sabido que existe à disposição das intrincadas mentes do Homo sapiens depressed uma vasta panóplia de domesticadores artificiais (calmantes, tranquilizantes, anti-depressivos) - vulgo drogas modificadoras de humor. Usados amiúde como recursos de primeira linha para chicotear as veleidades da mente, não deixam de se assumir como o garante de um certo estatuto social. A comprová-lo:
1- nos filmes quem não se encharca com comprimidos não tem pinta
2- chicotes e outras actividades circenses, todo o género de figurações deprimentes atraiem celebridades.
Para os que preferem alguma interacção física (mínima), as páginas amarelas e os filmes do Woody Allen recomendam os domesticadores / “ouvidores” de carne e osso. Estes, por sinal, são bem mais onerosos que os artificiais – recompensa para anos de estudo a labutar por uma carteira profissional que comporte o prefixo “psi-”. Múltiplas sessões de monólogos a dois requerem, além de uma carteira recheada, alguma sofisticação intelectual e sobretudo muita lábia para suscitar o vivo interesse do "ouvidor". Lá está, firma-se assim um contributo relevante para a afirmação do estatuto sócio-económico-intelectual do paciente. Quem frequenta psi's, mesmo que não as possua, adquire aos olhos dos outros as seguintes características muito valorizadas nos tempos modernos: uma mente conturbada e complicada q.b., guito (o eterno afrodisíaco) e lábia para dar e render para pelo menos dois telemóveis.
Mas quer dos artificias, como dos de carne e osso, tal como sucede geralmente com todos os clichés, não andamos já todos um bocadinho fartos? De facto, andamos... O que não quer dizer que os consigamos dispensar. Em parte, vem daí a 5ª essência da domesticação.
Darth Vader dirige-se à blogosfera:
Sua eminência Darth (em pose de estadista):
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(silêncio gélido na plateia)
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terça-feira, maio 09, 2006
O que me faz medo
Paula, desculpa por só responder agora ao teu desafio. A batata quente caiu-me nas mãos há tantos dias atrás e, se calhar como tenho uma costelazita de masoquista, aí a deixei ficar a escaldar-me...
Partilho muitos dos medos que elencaste no teu post. Aqui acrescento alguns dos que sinto ser os mais recorrentes em mim:
- pensar um dia que desperdicei a minha vida em ninharias, que vivi uma vida de fachada, que me escapou o essencial;
- lamentar um dia não ter feito uma data de coisas, quando estavam mesmo ao meu alcance;
- medo de perder demasiado tempo a olhar para o umbigo, dissipando-me em imbróglios mentais inúteis e a tentar lidar com as minhas inseguranças, quando na verdade, e enquanto isso, poderia ser muito mais útil se deixasse todas essas coisas de parte e me empenhasse a construir um verdadeiro sentido para a minha vida e a tentar ajudar os outros;
- dos conformismos, do nivelamento por baixo, da apatia;
- de ceder ao laxismo e de não perseverar na luta pelos meus sonhos;
- medo de ceder à cobardia: de me calar e de não me insurgir perante um injustiça que ocorra mesmo à minha frente;
- talvez o maior dos meus medos: o de nunca vir a encontrar a minha cara-metade.
Acho que que no fundo são medos comuns à maioria das pessoas... Reconhecer que somos assaltados por medos e dúvidas é um sinal de humildade e não um sinal de fraqueza. Só é pena que nem toda a gente pense deste modo.
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Máximas descartáveis
segunda-feira, maio 08, 2006
A Mente Humana (1)
O cérebro humano é dos animais mais difíceis de domesticar. Não há bicho latejante em caixa craniana do vasto reino animal que se lhe compare em termos de volubilidade, caprichos e arrufos. Há dias em que simplesmente põe e dispõe do seu portador a seu bel-prazer.
P.S. Mente Humana?... Isso não é uma redundância?
sexta-feira, maio 05, 2006
7º episódio do Gato Fedorento
Um indivíduo encontra-se prestes a atirar-se do último andar de um prédio para acabar com tudo. Entretanto surge-lhe o Anjo da Guarda Nacional Republicano, que nessa condição traja obviamente de GNR, usa bigode e zela, não pela felicidade, mas pela estrita legalidade pública. Não lhe interessa nada o facto do indivíduo se querer matar, pode fazê-lo se lhe der na gana, desde que não se atire para uma via pública a impedir o trânsito. O Anjo começa então a enumerar, sem pingo de sensibilidade para com a dor alheia, os muitos inconvenientes (alguns dos quais bastante macabros) que adviriam dessa conduta irresponsável: a quantidade de gente que chegaria atrasada aos empregos e por consequência algumas das quais sujeitas ao despedimento; o trabalhão que não daria para remover todas as manchas de sangue do asfalto; etc... A infracção que acaba por ser apontada ao indivíduo prende-se com a sua permanência no tal terraço, que seria de acesso reservado. Daí a uma piscadela de olho a uma das situações que mais tem minado a credibilidade da GNR - falo dos subornos a troco de um fechar de olhos - vai um pequeno passo. Tudo isso está representado com muita piada na insistência daquela mãozinha atrás das costas a prometer esquecer a infracção em troca de um pecúlio... que daria muito jeito para comprar um casaco, uma vez que "lá em cima" o clima é fresquito.
Um casal desloca-se a um Chatanato - sinónimo de orfanato para chatos -, com o intuito de introduzir alguma chatice nas suas vidas. Pela sua suposta chatice incorrigível, (e, a avaliar pela espessura das lentes, incorrígivel deve ser também aquela miopia), o Onésimo, nome de Santo nascido na Frígia (como ele não cessa de repetir), acaba por ser o escolhido pelo casal. Num convívio de amigos, Onésimo que supostamente lhes deveria dar uma enorme seca, revela-se uma pessoa bastante divertida, traindo assim as expectativas do casal. Resultado: acaba por ser devolvido ao Chatanato por ser demasiado interessante.
Numa sala de cinema, algumas pessoas, poucas, assistem a um filme português. (Contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que assistem ao filme, como convém a uma cinematografia - nacional - a que se colou a reputação de inacessível e intragavelmente chata.) Um espectador vê-se na situação de ser corrido para fora da sala pelo “lanterninha”, por ter sorrido em plena sessão. Não é permitido achar graça a um filme português. Nem era esse o caso do tal espectador, mas um dos espectadores presentes, de cenho sério e rígido, apressa-se em acrescentar mais achas à fogueira ao afirmar tê-lo visto sorrir numa cena anterior de 15 minutos em que não havia qualquer fala. No final do sketch, o espectador ainda suplica para ficar, mas o “lanterninha” é peremptório: “Agora é tarde para se aborrecer, devia ter-se aborrecido desde o início!”
Apetece-me esta definição de blogue:
quinta-feira, maio 04, 2006
Amizades e Extintores
Há certas amizades que se comportam como extintores: passamos por eles várias vezes, sabemos onde os encontrar, mas quando mais precisamos deles damo-nos subitamente conta de que estão fora de validade. O que felizmente nunca sucedeu comigo, thanks to all my friends!
Provável diagnóstico de hipocondria em apenas 3 linhas de diálogo:
- Hipocondria? Não, nunca ouvi falar...
- Pode-se dizer que é uma espécie de doença...
- Doença? Eh pá, então se calhar também tenho isso!
Rua abaixo
terça-feira, maio 02, 2006
Fear
O medo grita-nos do precipício,
tenta-nos a galgar a ponte,
só para nos fazer sentir mais forte o seu apelo.
P.S.1 Paula, peço desculpa por ainda não ter respondido ao desafio que me lançaste no teu post. Já comecei a elaborar a minha lista, mas é uma tarefa hercúlea... é que são tantos os medos... Prometo que daqui a uns dias a lista de horrores será divulgada, isto se entretanto não intervier qualquer agência censória.
P.S.Científico: MRI ou Magnetic Resonance Imaging. O scan mostra-nos que quando experienciamos uma sensação de medo, a estrutura do cérebro que se torna mais activa é a amígdala.P.S.3 De alguns dos meus medos julguei desembaraçar-me aqui...
A dura realidade do patinho feio
segunda-feira, maio 01, 2006
Poetry (5)
Do que nada se sabe
A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?
Jorge Luís Borges
tradução de Fernando Pinto do Amaral.