quarta-feira, maio 17, 2006

Ecos do passado percutidos ao longo do filme “Mean Creek / Pequena Vingança”

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Todos nós, uns mais que outros, tivemos o nosso quinhão de humilhação no pátio (e não só) da escola. Algumas nódoas mais insidiosas desses tempos acabam por persistir na roupagem dos anos, coisas que por vezes nem o TIDE máquina (leia-se tempo) consegue erradicar por completo.
Como todos os rapazotes “pisados” (mais a nível psicológico e nunca ao ponto de ficar com marcas semelhantes às que ostentava o rosto de Rory Culkin / “Sam Merric”, após a cena da briga), admito que na altura também eu engendrava planos mentais (que logo descartava) para dar uma lição a muitos desses chico-espertos. Ao contrário do grupo de amigos que no filme resolvem pôr em prática uma lição exemplar, eu, invariavelmente, seguia a via dos fracos: um silêncio mal disfarçado de indiferença, rosto quase impassível (não fosse o olhar nublado e o lábio trémulo), mãos crispadas a conter a ira. Talvez por nessa época ter-me em conta de menino bem-comportado, não me dignava a baixar ao mesmo nível que eles.

Comer e calar não é certamente a melhor forma de se ganhar o respeito de alguém. Mas também não acho que a solução passe por pagar na mesma moeda. Então... que se transacione na altura certa segundo o câmbio mais apropriado? Não é fácil lutar contra esse impulso primário. A verdade é que regermo-nos pela lei de Talião (olho por olho, dente por dente) só perpetua a teia de vinganças. Novos males e desentendimentos serão gerados, numa escalada de consequências negativas que nunca se sabe muito bem até onde podem chegar.

E tudo isto a propósito deste filme de Jacob Aaron Estes. Só que no filme, o tal grupo de amigos conseguiu entrever no suposto “inimigo” (“George”) uma faceta oculta e vulnerável, muito para além das suas gabarolices. Este terá ganho uma dimensão humana insuspeita ao demonstrar possuir sentimentos à partida vedados pela tal “capa” do brigão. Não era tanto o caso de serem invisíveis aos olhos dos que nunca lhe prestaram a devida atenção, porque a culpa residia sobretudo nele, dadas as suas inseguranças e o seu receio em mostrar o seu outro lado.

No que me diz respeito, nunca se deu a oportunidade dos “infernizadores” da minha adolescência sofreram um upgrade na minha consideração. Permanecem, e assim continuarão, no patamar dos que promovem a estupidez e a violência gratuita (física e verbal) como forma de se afirmarem perante os outros.

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