Olhamos em frente
diluindo-nos na calma aparente dessas águas
em que se encontra o mundo suspenso.
Sob a alçada de luz quente que desce, tantas as vidas
que tudo arriscam por esse último fulgor vespertino,
que sobem pelas escadas escoradas em pilares de memória,
sem pressas que a saudade as calce nas suas luvas tão justas,
tão coladas à boca ao deitar que nos obrigam a engoli-la em cápsulas,
para regurgitadas em sonos, em soluços, libertarem o seu acre que perdura
nos actos reflexos accionados não se sabe por que lamentos,
por que mecanismos internos, sem bula de instruções
a que recorrer nos momentos de maior dúvida.
Olhamos em frente sem atentar na efervescência lateral,
na liberdade das bolhas, no bulício de evasão que o mundo
fez cair sobre um dos seus vasos comunicantes - transeunte transitório -
como o doente que já prevê melhoras na aspirina fervente
no copo de água desconsolado, rachado para a sangria dos lábios.