terça-feira, agosto 29, 2006

Sondar-te de noite, à distância



(daqui)


"Lá fora, a luz continua a fustigar o que finge viver. Mas ignoro onde é que os meus actos - antes de se perderem na escrita - são iguais aos teus."

in O Anjo Mudo de Al Berto.



Oui, il y a les autres...



Jacques: "Não gosto quando temos de adivinhar sozinhos o que têm as pessoas, disse ele. As pessoas que não nos ajudam (...)"
Sara: "Porque precisas saber porque é que estão tristes, e tudo isso?"
Jacques: "No dia em que isso deixar de me interessar, quer dizer que terei deixado de te amar"

in "Os Cavalos de Tarquínia"de Marguerite Duras.

A minha pequena alteração: "No dia em que isso deixar de me interessar, quer dizer que terei deixado de amar".



A amizade e o desconhecido


"Neste sítio estamos curiosamente afastados do desconhecido."

"Talvez não haja nada que afaste tanto do desconhecido como a amizade."


* de um diálogo entre duas personagens do livro "Os Cavalos de Tarquínia" de Marguerite Duras.



O Mesmo Arco





"Eu diria que não vejo nada e que não sei.
Algo está suspenso. A hora repousa.
Eu quero estar vivo como uma ferida, como um signo,
não mais do que um rumor de coisa nua.
Neste momento nada é confuso e opaco.
Os labirintos são trémulos, transparentes.
Dir-se-ia que atravesso um jardim e toda a vida
repousa entre as forças da cinza
e o fulgor da chama. E adormeço
sentindo a beleza e o tempo, o mesmo arco
iluminado."

in "Acordes" de António Ramos Rosa.



segunda-feira, agosto 28, 2006

Lux 2






"Portas sobre portas até que a porta final abre sobre a luz que atravessa o espaço aberto de todas as portas"
Herberto Helder in Photomaton & Vox.

Espanta-me a vida profícua de certos seres. Seres que parecem não ter pertencido a este mundo. Que o atravessaram como cometas. Que não recuaram perante os riscos que corriam ao transporem a segurança das fronteiras conhecidas e bem delimitadas. Que ao fecundarem as nossas mentes com as suas prospecções visionárias, legaram para a posteridade – se o soubermos preservar - um conhecimento mais íntimo e mais profundo sobre nós e a realidade. Das profundezas do nosso espanto ecoará para sempre a rábula da nossa mediocridade. Se entretanto não nos despenharmos e conseguirmos reunir forças para os revisitar de vez em quando, resta-nos a consolação de nos sentirmos submergidos pela sua luz, nos escassos instantes em que julgamos aflorá-los. Poderia nomear alguns, mas desse modo não estaria a fazer justiça a todos.



Eugénio: reflexos de todos nós



(foto de Alfredo Cunha)



"Às vezes sinto-me tão desesperado que me sento a escrever como quem chora"


"Estás só, e é de noite, / na cidade aberta ao vento leste."


"Não dizias palavras, ou só dizias / aquelas onde o rosto se escondia"


"Como se recusa o amor?, perguntavas / o sorriso brincando ao sol com as romãs"



quarta-feira, agosto 23, 2006

Desejo eclipsado


(Eclipsed Moon)


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Quando a noite desce e nos empresta
os seus lúdicos bálsamos
e nos convida a inconfessáveis entregas,
pressente-se o peso opressivo
que nas horas solitárias
persegue o silêncio dos quartos exíguos;
inundam-se os lençóis imaculados
com os suspiros que se emitem
na ausência do corpo amado.

Como dói ser engolido na vacuidade
dos anseios sem resposta,
das partilhas sem remetente,
das marés vazantes de um desejo que mingua
ao eclipse de uma lua cheia.


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7/7/2004


A alba das pálpebras e o desejo que extravasa



(Nobuyochi Araki)

"Procuras o caminho com a língua afiada pelo desejo. Tocas a alba das pálpebras que, de súbito, se abrem para mim. A parede da cela fende-se de alto a baixo. A noite seca num lenço de sémen. A luz coalha na saliva do lábio. Ouvimos o mar como se tivéssemos encostado a cabeça ao peito um do outro."
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* in O Anjo Mudo de Al Berto.



Rasgo por fim o longo silêncio



Neste degredo solitário

feito de tácitas cumplicidades,
de resignações a que os anos me acomodaram,
rasgo por fim o longo silêncio
chamando a mim a força de braços
que imponha a distância de tudo aquilo
que aniquila e envenena a alma
e a distrai do eflúvio essencial da vida.



3/7/2004




Quando a memória nos acerta em cheio



Magritte, La Mémoire, 1938


«É do passado que todos nós vivemos e é no passado que perecemos»
in "Máximas e Reflexões" de Goethe.

"A adolescência teve o seu áspero tumulto, a luz própria como uma estrela de que se não vai discutir a grandeza, a inquieta e sufocante cumplicidade exactamente com aquelas disputas intraduzíveis que se destinam ao seu alimento e envenenamento. Porque a infância e a adolescência - matéria da nossa proposta e execução - morrem de si mesmas, morrem de ser o que vão sendo até ao segredo de si, por elas dentro e fora."

in "Photomaton & Vox" de herberto helder.



Lux



(daqui)

O sonho configura-se nos biliões de circuitos da rede neuronial que se ramifica a partir de um vislumbre do vivido.



sábado, agosto 19, 2006

Desencontrados



(daqui)





Desencontros a rodarem sobre esferas diárias,

serões tão terra-à-terra - castigo sem remissão
a insípidas aventuras por estratosferas -
pasto para os rebanhos que nos uniam se dispersarem,
com o medo da partilha a tilintar em fundo,
eco que a pouco e pouco veio selar
o meu sorriso diante do teu sepulcro.



Ao pragmatismo acendeste uma vela, luziu

sobre tudo quanto de inconsequente eu fiz
para aos teus olhos te parecer mais belo.
Arrancar-te uma palavra - violência tanto maior
para mim que me conformei às dunas
fustigadas pelo silêncio por ti nutrido como um filho.




A razão por que te alimentei em sonhos?

A do viajante febril por outros desertos
com os sentidos de engorda a uma esperança
refazermo-nos da sede num oásis,

mas que entre nós nunca houve meio de existir.


1/1/2006



Dantes, quando era a quase paralisia

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(Chani Goering - The Diminutive)
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Respondia de forma emotiva e caótica aos acontecimentos, às palavras, aos gestos, aos olhares, às expressões dos rostos. Por vezes até à desfocagem dos sentidos. A linguagem vacilava, embrulhava-se, parecia um apêndice subitamente atrofiado. Balbuciava a maior parte das vezes palavras incongruentes aos que o interpelavam. Sentia que não podia dar-se nesses momentos em que não sabia bem de si. Julgava dar-se apenas no seu mínimo: em presença sorridente, aquiescente – que era o mesmo que nada. Retroactivamente apercebia-se de uma miríade de pormenores que influíam em todo esse desconforto. A consciência aguda desses fenómenos, que radicavam no medo da exposição e da rejeição, limitava-o na capacidade de fruir o momento, de aparentar maior naturalidade. Só no fim, nas calmas da solidão, é que atava os nós todos – mas com que finalidade prática, se tudo isso já pertencia ao passado?
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Surfar na net


A internet parece-se cada vez mais com a segunda estância balnear dos retornados de férias. Dos veraneantes sem cheta para algo mais substancial.


«A verdadeira grandeza do homem»


"É sem razão que o género humano se queixa da sua natureza, dizendo-a débil e de curta duração, dependente da fortuna, mais do que do valor. Mas pelo contrário, se se pensar no assunto, descobrir-se-á que não há nada de maior nem de mais préstimo, e que o que lhe falta é mais o esforço do que a energia ou o tempo. Ora o chefe e comandante da vida dos mortais é a alma. Quando ela se lança à glória pelo caminho do valor, abunda em força, em potência, em prestígio, e não precisa de fortuna, porquanto a honradez, o esforço e as restantes boas qualidades, ela não pode dá-las nem tirá-las a ninguém. Mas se, dominado por desejos torpes, mergulhar na preguiça e nos prazeres físicos, por um tempo curto usufrui de uma voluptuosidade nefasta; as suas forças, o seu tempo, o seu talento, escoam-se devido à inércia, e então o que se acusa é a debilidade da natureza. Cada um transfere as suas culpas para os acontecimentos, quando é ele o culpado. Ora, se os homens se preocupassem tanto com o bem como com a procura afincada de coisas que lhe são estranhas, que de nada lhes valem, e muitas ainda são perigosas, não seriam eles mais governados pelo acaso (...)"

Salústio, Jugurta I.1-5 (in Romana, trad. Maria Helena da Rocha Pereira)



terça-feira, agosto 15, 2006

Anestésico... até ao dia D




Resvalas num copo com o olhar atento num só corpo. Corpo que se move numa órbita que queres crer tua também. Escalas as superfícies lisas e dengosas ao compasso do som das colunas. Só o voltares à vertigem do mergulho no líquido espesso, amniótico, que fervilha na cratera dormente entre mãos, te ajuda a refrear o ímpeto, noutras vezes, as dúvidas. Caso desse em nada, mitigarias os teus prantos num ombro amigo. As suas palavras sossegariam por instantes os teus devaneios, mas de que te serviriam? - pensas tu - se continuarias a desconhecer o rumo dessa nova jornada, tão precocemente abortada. Talvez o medo te leve um dia à loucura se, ao invés de te deixares conduzir pela mão de uma estranha, arrepiares sistematicamente caminho ante o cenário de uma hipotética rejeição. Não a temas! Nem temas a estranha que te parece acenar com o olhar. No mistério do teu peito, pode ser que ela venha a pousar a sua fronte. No calor do teu arfar esquecer-se-á de si... Quem sabe? Nada há a temer nesse silêncio, e a seu tempo, hás-de conhecê-la...

2004-2006


segunda-feira, agosto 14, 2006

Still be no chances after the quarantine?




Acabei de escutar isto, mas não me deixo abater por coincidências:

"You could have locked yourself up
For ten years or so
And when you finally came out
There would still be no chances for you
"


Surge no tema Lasagna dos The Knife, no álbum homónimo que os meus queridos amigos F. e A. me arranjaram.






Pedalar daqui para fora



Kevin Brett, BC - cloon


Saio de casa. Seguro sem grande firmeza o guiador da bicicleta. Bicla novinha em folha, mas que nem sequer me pertence. Fosse eu fatalista e diria que é apenas mais um exemplo de que nada me está destinado a pertencer.
Dou às pernas. Pedalo. Curvo-me sobre o guiador, como se formasse uma entidade única com a bicicleta e o vento no rosto, apenas no rosto, mo confirmasse. Tenho mesmo que pedalar daqui para fora. De me perder por instantes por essas ruas poeirentas. Esquecer-me dessa outra sensação de perda que me obriga a abandonar as minhas quatro paredes, onde a ressonância das coisas se torna intolerável.
Surpreende-me o aparato de me ter posto tão facilmente em movimento. Felizmente as forças não me abandonaram, como seria de esperar. Pelo menos não as físicas. Ainda. Agradeço o poder ausentar-me daqui. Não foi em vão que me levantei e consegui regressar de um longo exílio. Terei na travessia fortalecido os músculos? Como gostaria de crer nisso e convencer-me de que não me espera novo degredo. Apenas o tempo o dirá...


Coeur en quarantaine?



(daqui)

Se nos forçarmos à quarentena, o que sobrará de nós no final desse interlúdio? Com grande probabilidade não o saberemos, caso nada façamos em contrário, dado que o processo tende a auto-perpetuar-se. Começa com um prazo de quarenta dias e quando damos por nós - anos se passaram sem que franqueássemos a porta para a rua. Não aguentaríamos o baque da luz exterior despindo-nos de uma vez por todas da nossa roupagem de anos, das ilusões protectoras com que escorámos a nossa existência. Quem conseguiria viver após a dura confirmação de que passámos ao lado da vida?
Tendo vivido em quarentena, tendo-me apercebido dos seus mecanismos de auto-perpetuação e dos perigos inerentes a isso, tendo-me decidido franquear a porta e recebido o baque implacável (que me derrubou e despojou por terra, confesso), para onde me dirijo agora?



Preso do seu olhar




Preso do seu olhar, vejo-a diluir-se na maré, como que engolida pelas vagas que se agitam todas as manhãs. Meio-acordado ainda, este tumulto matutino não me deixa segui-la como eu tanto queria.



O irrepetível cortejo de rostos



James Ensor, The Masks and Death (1897)

Encerravam em si o que à realidade cabia de dureza, uma realidade crua à qual costumava emprestar uma boa parte minha. Chocava-me o medo que neles projectava, assim como os anseios que lhes adivinhava mesmo que não fossem os meus. Ao longo do cortejo, costumava interrogar-me sobre os verdadeiros motivos que me levavam a correr tão cedo. Interrogava-os também a eles, e respondiam-me com o olhar, com gestos simples, quase unívocos. E as suas respostas não variavam por aí além das minhas. O cortejo, apesar de irrepetível, seria então qualquer coisa de verdadeiramente universal?
Hoje já não me foco na dureza dos rostos, antes opto pelo lado solar.


Horror ao nem quente, nem frio


Da minha espera se fará a calma aceitação dos dias do porvir? Adivinho-os tépidos se me resignar e a tepidez é uma forma de ilusão, um desperdício, um placebo: não toca em parte alguma do nosso ser.



Nos antípodas


Digladiam-se nos antípodas duas forças.
Uma é supremo fogo que tempera a criação;
a outra não aspira mais que cobri-la de cinza.




Ficção além das grades




(Cela)


Deu por concluída a ronda

o guarda que aprisionou na cela
o istmo das primeiras estrelas ao entardecer.


O preso vacilará na sombra

quando for chegada a sua hora.
As grades serão ponteiros que dobram
o instante preciso da libertação. 

Que aos magotes acorram à sublevação
e por mais tempo sustentem

a ficção além das grades
os cúmplices da grande evasão.

.....................................................


Extintos os motins sem pleito,
e as chamas ateadas do interior das barricadas,

desfeito o caos germinado dum ócio sem fim,
ele acomoda-se no catre
com a face voltada para a parede
onde o aguardam as marcas de outras ficções.


3/10/2005



domingo, agosto 13, 2006

Naked as paper to start?






"Now your head, excuse me, is empty.
I have the ticket for that.
Come here sweetie, out of the closet.
Well, what do you think of that?
Naked as paper to start."

"Mas a tua cabeça, desculpa que te diga, está vazia.
Tenho remédio para isso.
Anda cá, amorzinho, sai do armário.
Então, que pensas disto?
Está em branco como papel por escrever."

* estrofe retirada (e propositadamente descontextualizada) do poema The Applicant que consta do livro Ariel de Sylvia Plath (tradução de Maria Fernanda Borges).

Recontextualização (pessoal): Empty head? Muito longe disso... Only waiting to put some sense... Ou então, à espera de alguém que não resista em vir escrever a primeira palavra - "a" palavra - nessa página em branco...

.


sábado, agosto 12, 2006

Tramp (2)


A mendicidade enquanto condição quase infantil que se auto-protela na segurança e conforto do seu mundo desregradamente livre.



Tramp


"A mendicidade foi o único caminho para o afastamento."

Al Berto



domingo, agosto 06, 2006

Férias


Apetece-me muito, mas mesmo muito ausentar-me por uma semana... Este blogue parece estar mesmo a precisar disso. Portanto: boas férias para todos!, se for caso disso... que yo me voy! E obrigado a todos os que por aqui têm passado!



Reflexos nocturnos



(Saleh Babazadeh, On the Train)




Trem de luzes suspensas na escuridão dum corredor de lata
a rastejar veloz no tampo espelhado de carris e descampados.
Assomo a uma das inúmeras fissuras da serpente luminosa
intrigado como toda a gente com o quadro negro
que devora o silêncio interior mortuário.

A janela é um jogo de espelhos interior, é a noite de dentro
sentada num dos bancos externos do comboio,
montra de lâmpadas que atrai os mosquitos de fora
batendo asas sequiosas ao longo do vidro
tontas de ânsia pela mais ínfima fresta
implorando a entrada num zumbido
para virem sugar-me a sanguínea expressão
ao ver-me atirado de surpresa para essa arena
(ringue de boxe colectivo e tão repentino)
onde golpes de canavial me destroçarão o rosto
em sucessão estrepitosa de estafetas,
palmas de mãos inimigas por revezar.
Na plateia escura assiste incólume
o reflexo vigilante desse treinador de bancada
que só sabe alvitrar conselhos inúteis para o round seguinte.
O corpo que jurou vitória contra o vazio da noite,
balbucia o estrebucho final da desistência;
o apito na estação sentencia o knock out,
o ringue imobiliza-se no que antes era ermo contínuo;
a plateia perde as feições esbatidas,
apeia-se indiferente às derrotas alheias.
No fundo sei que ninguém terá apostado em mim,
nem mesmo o reflexo que me ampara friamente
de encosto ao vidro, onde nem me poupa
à visão de um rosto desfigurado e feio.
Resta-me mergulhar a dor num banho de gelo,

para evitar que alastrem tumefacções e hematomas.


2/6/2005


sábado, agosto 05, 2006

Errância


Das horas tardias em que o sol se punha e o vento levantava a poeira das veredas e sob os nossos passos arrefeciam as brasas do dia, continuo a recordar a plenitude dessa errância, sem que nada nos forçasse a tomar um desvio...



quarta-feira, agosto 02, 2006

Patrick Wolf - The Libertine






The Libertine

The motorway won't take a horse.
The wanderer has found a course to follow.
The traveller unpacked his bags for the last time.
The troubadour cut off his hand and now he wants mine,

(Oh, no )

Oh no, not me.

The circus girl fell off her horse, now she's paralysed.
The hitchiker was bound and gagged, raped on the roadside.
The libertine is locked in jail.
The pirate sunk and broke his sail.

But I still have to go,
I've got to go, so here I go,
I'm gonna run the risk of being free.

The magicians secrets all revealed.
And the preachers lies are all concealed.
And all our heroes lack any conviction.
They shout through the bars of cliche and addiction.

So I've got to go,
I've got to go, so here I go
I'm gonna run the risk of being free.

And in this drought of truth and invention, whooever shouts the loudest gets the most attention, so we pass the mic and they've got nothing to say except:

Bow down, bow down, bow down to your god.

Then we hit the floor, and make ourselves and idol to bow before.

Well I can't,
And I won't
Bow down,
Anymore...

No more.


* 1º single do álbum Wind in the Wires (2005). 


terça-feira, agosto 01, 2006

Exemplos inspiradores

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«O homem é um ser para viver em comunidade»

"Mas uma vez que, conforme escreveu muito bem Platão, não nascemos só para nós, e a pátria reclama uma parte da nossa existência, outra parte os amigos, e , como querem os estóicos, tudo quanto a terra produz foi criado para utilidade do homem, e por sua vez os homens nasceram por causa dos homens, de maneira a poderem ajudar-se uns aos outros, o nosso dever é seguir o caminho indicado pela natureza, servir o interesse geral, prestando mutuamente serviços, dando e recebendo e, ora por meio da nossa habilidade, ou da nossa actividade ou do nosso engenho, estreitar os laços sociais."
Cícero, Dos Deveres I.7.22 (in Romana, trad. Maria Helena da Rocha Pereira)

P.S. Por muito que se diga o contrário, ainda existem muitas pessoas altruístas, movidas não só pelo sentido de dever, mas também por valores como justiça moral e bondade, pessoas que fazem das suas vidas exemplos que nos inspiram a sermos melhores, menos individualistas e menos conformados com as nossas rotinas e com os males que grassam no mundo; pessoas que nos inspiram a votarmos as nossas energias a fazer qualquer coisa com significado, com utilidade prática para os outros. A sorte e o acaso por vezes concedem-nos o privilégio e a felicidade de conhecermos pessoas assim.
Obrigado S. por seres simplesmente assim, tão modestamente assim, pelo teu grande exemplo de vida... E obrigado A. por ma dares a conhecer!