Pedalar daqui para fora
Saio de casa. Seguro sem grande firmeza o guiador da bicicleta. Bicla novinha em folha, mas que nem sequer me pertence. Fosse eu fatalista e diria que é apenas mais um exemplo de que nada me está destinado a pertencer.
Dou às pernas. Pedalo. Curvo-me sobre o guiador, como se formasse uma entidade única com a bicicleta e o vento no rosto, apenas no rosto, mo confirmasse. Tenho mesmo que pedalar daqui para fora. De me perder por instantes por essas ruas poeirentas. Esquecer-me dessa outra sensação de perda que me obriga a abandonar as minhas quatro paredes, onde a ressonância das coisas se torna intolerável.
Surpreende-me o aparato de me ter posto tão facilmente em movimento. Felizmente as forças não me abandonaram, como seria de esperar. Pelo menos não as físicas. Ainda. Agradeço o poder ausentar-me daqui. Não foi em vão que me levantei e consegui regressar de um longo exílio. Terei na travessia fortalecido os músculos? Como gostaria de crer nisso e convencer-me de que não me espera novo degredo. Apenas o tempo o dirá...
0 Comentários:
Enviar um comentário