Anestésico... até ao dia D
Resvalas num copo com o olhar atento num só corpo. Corpo que se move numa órbita que queres crer tua também. Escalas as superfícies lisas e dengosas ao compasso do som das colunas. Só o voltares à vertigem do mergulho no líquido espesso, amniótico, que fervilha na cratera dormente entre mãos, te ajuda a refrear o ímpeto, noutras vezes, as dúvidas. Caso desse em nada, mitigarias os teus prantos num ombro amigo. As suas palavras sossegariam por instantes os teus devaneios, mas de que te serviriam? - pensas tu - se continuarias a desconhecer o rumo dessa nova jornada, tão precocemente abortada. Talvez o medo te leve um dia à loucura se, ao invés de te deixares conduzir pela mão de uma estranha, arrepiares sistematicamente caminho ante o cenário de uma hipotética rejeição. Não a temas! Nem temas a estranha que te parece acenar com o olhar. No mistério do teu peito, pode ser que ela venha a pousar a sua fronte. No calor do teu arfar esquecer-se-á de si... Quem sabe? Nada há a temer nesse silêncio, e a seu tempo, hás-de conhecê-la...
2004-2006
3 Comentários:
Muito bem, excelente escrita!
Fica bem, um beijinho.
Muito bem escrito e tão sério.
Acho bem conhecermos estranhas e estranhos porque neles podemos encontrar amigos.
Um beijinho
Obrigado Maria P. e Redonda, mas acho que exageram nos elogios... Beijinhos para ambas.
Redonda: todo o amigo começou por ser um estranho, não é verdade?
O desejo de aproximação ao estranho, a vontade de descoberta, são coisas tão intrínsecas ao ser humano... Há sempre o risco de esbarrarmos no medo e na incompreensão do outro, mas é um risco que vale a pena ser corrido... para nosso bem, para enriquecermos o espírito, para ganharmos experiências. Enfim, que piada tem uma vida resignada? Que piada tem a vida sem o desejo do novo, da novidade? Acho que nenhuma.
Angi: a tua pressão é sempre bem-vinda. Sempre à minha procura? Eu aviso-te quando chegar... :) Como já podes ver (novo post) a ausência deixou de o ser. Por quanto tempo agora? Vais ter que perguntar à minha preguiça congénita.
Beijinho.
Uma casa em que estejamos ausentes, pelos mais variados motivos, deve poder reservar-se ao silêncio para se repensar e fazer um balanço dos eventos que a habitaram... Daí as cortinas fechadas serem por vezes necessárias...
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