sábado, novembro 04, 2006

Road movie

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Fade in para o enigmático close-up de um polegar em riste a pedir boleia - como para uma viagem de sonho - à linha contínua que divide ao meio o enquadramento do ecrã.

“Carrinha velha aos solavancos, detém-te! sob o poderoso feitiço deste talismã oponível!”

Do pára-brisas: o esfumado negro da apreensão, de um mau pressentimento, dos perigos que acompanham geralmente os passos de um estranho pelas bermas solitárias.

No retrovisor: o brilho esmaltado de um sorriso ensaiado a disfarçar um arrependimento.

As mãos trémulas sobre o volante ante o vício do silêncio, em fingida e alienante condução pelos locais da incomunicabilidade entre os Homens - tão unidos à nascença pela viagem comum, mas renitentes à sua verdadeira acepção.

O road-movie prossegue, alucinante, pela paisagem do medo, pelos marcos da dilação de equívocos e embaraços, mas sem que nunca o espectador anseie pelo fade out.

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