sábado, novembro 11, 2006

Bolha de sabão

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Chardin, The soap bubble
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Os pensamentos expandem-se, trémulos, como uma bolha de sabão. Uma bolha que cresce desmedidamente, soprada não sei bem porquê, nem a que propósito, nem sei se por mim. Por vezes parece-me que cresce com o único fim de encerrar um vazio crescente. Diria antes: um quase vazio - uma vez que com algum conteúdo há-de ter sido insuflado... mesmo que pelo bocal passem, intermitentemente, os lábios de uma mente à deriva. Não é fácil controlar o tamanho da bolha e muito menos fazê-la perdurar. O seu equilíbrio é instável.
O conteúdo é um pouco como o ar viciado que expelimos de uns pulmões que respiram com dificuldade. Pulmões conscientes das suas limitações, mas que se divertem a reter o ar por demasiado tempo - em auto-desafio.

Um caldo de átomos, ideias indivisíveis chocam umas com as outras. Um caos que nasce do desafio de tomar alguma forma, uma aparência de ordem que no fundo não significa nada. Um exercício oco, sem finalidade.

Com os pensamentos passa-se algo de semelhante a expelir o fumo de um cigarro para o interior de uma bolha em expansão. Confina-se uma pequena nebulosa entre paredes transparentes, o que nos permite observar o quão depressa ela se dissipa.

Estou tentado a afirmar que uma bolha que se expande nada retém, nada aprisiona, mesmo tratando-se de um "nada" confinado dentro dos seus limites. É que os limites são mutáveis a cada instante. E com isso entro no capítulo das linhas divisórias ou, para ser mais correcto, das superfícies, onde cores e reflexos variam imenso à medida que a bolha se dilata. Cores e reflexos são algumas das variáveis de adaptação ao exterior que podemos tentar manipular. Nem sempre é possível aquela transparência líquida que nos permite distinguir o fundo de, por exemplo, um lago. Nessas circunstâncias, quem não manipula, esconde ou disfarça? Se houver alguém que não, que atire a primeira pedra. Duvido que depois consiga vê-la atingir o fundo do lago...

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