quinta-feira, julho 27, 2006

Alteridade

.

I

Um fosso enorme entre mim e os outros:
intransponível - no qual volto a esbarrar
sempre que os nossos caminhos se cruzam.


II

Ninguém sabe ao certo
o que faz de si
o eleito de si próprio,
nem o que o distingue
do abismo
que é a alteridade.

É-se desconhecido de si

e do outro.
.

6/7/2003

7 Comentários:


Anonymous Anónimo disse...

de arquitectura percebo muito pouco, como de tanta coisa, só sei do que gosto. E gosto de pontes, cujo conceito e materialização vieram de uma altura em que os blogues eram uma palavra muito estranha. A alteridade também vem do acreditar, e logo a seguir não, naquilo que parece inacreditável. E acreditar de novo um pouco (porque não, se nos faz sorrir?). Muito boa gente deve ter caído ao rio. Alguns crentes foram para o céu, outros deram umas braçadas valentes, e agora é o que se vê de trânsito na 25 de Abril... Nem todas são tão seguras como as que vislumbro em certos cruzamentos. Preciso é dar-lhes utilidade, esquecer as vias únicas, e passear muito. Mesmo que apeteça ficar em casa. :)

27/07/06, 19:35  

Blogger Maria P. disse...

Gostei, sabes senti mais maturidade (na escrita) neste, em relação ao que publica a seguir. São gostos!

Beijinho e boa noite.

27/07/06, 22:13  

Blogger Cláudio disse...

Maria P. :

Também gosto mais deste, sobretudo pela forma, por ser mais simples, menos palavroso, mais contido. O tema do outro se calhar atrai-me mais, porque se calhar diz-me mais, com a devida ressalva: o de uma vida destroçada pela ausência de amor, pelo esquecimento votado a uma palavra tão importante e o pesadelo que deve ser tomar consciência disso numa fase já tardia da vida.
O tema deste talvez seja mais negro e a tender pró sociofóbico, de uma individualidade consumida pela dúvida, pela consciência ou inconsciência dos seus limites, pela incapacidade de se aproximar do outro.. tudo coisas que não me agradam de todo.

Beijinhos e obrigado pela tua opinião frontal... assim é que é!

27/07/06, 23:25  

Blogger Cláudio disse...

Angi:

Que dizer ao teu comentário lindo? Adorei as metáforas! Com palavras assim esquecerei rapidamente as vias únicas.. Continua assim, que o bichinho dos passeios começa-me a segredar destinos muito atraentes.. pena que não sejam ao virar da esquina..

Beijinhos desta minha individualidade à tua alteridade :)

27/07/06, 23:32  

Blogger Fábio disse...

Uma coisa em particular no teu poema me chama a atenção para além do que já tão bem foi dito pela Angi e Maria P: Na primeira estrofe falas do fosso que se abre quando os caminhos se cruzam, e penso que não erro muito quando penso que falas do cruzamento entre o sujeito que se revela e qualquer outro com o que ele se cruze. Mas e se a estrofe/o poema, fosse dirigida a uma 3ª pessoa e só uma? Não terias posto em poema uma outra realidade tão presente e tão consistente - os alguéns que, inadvertidamente ou não, nos desconcertam, e, quando queremos exactamente o contrário, agudizam a nossa sociopatia!

Adorei, como adoro estes múltiplos caminhos

Abraços

28/07/06, 00:40  

Blogger Fábio disse...

PS:Queria dizer 1ª estrofe

Abraços

28/07/06, 00:45  

Blogger Maria P. disse...

Realmente, desculpa se foi frontal de forma fria, sei que não nos conhecemos bem, mas eu sou assim, digo o que penso a quem me merece consideração como é o teu caso, por aquilo que transmites, neste espaço, desde a música as tuas palavras, tenho-te como uma boa pessoa, de bom fundo, como dizem na minha terra (Alentejo).

Quanto ao outro tema: "vida destroçada pela ausência do amor" acredita que me diz muito, até demais...

beijinho com enorme carinho.

28/07/06, 19:44  

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