quarta-feira, julho 12, 2006

Corredor sem grades

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(Chani Goering, Manikin - The Diminutive Form of a Man)

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O teu corpo adeja por um corredor sem grades.
A gaiola é estreita, imperturbável.
De nada adianta apoiares todo o teu peso num dos seus extremos.
Rebelião alguma induzirá a menor racha nestas paredes,
nem as tuas oscilações converterão a sua estrutura num pêndulo desgovernado.

Devias dar graças ao facto da portinhola se abrir para ti todas as manhãs,
ainda que na sua aparente inexistência seja de imediato assimilada.
Sossega pois a um canto, enquanto a mão te renova a água e o alpiste.
Confina os teus desejos a esta rotina, e louva-a com um dos teus velhos gorjeios.

Perdeste o canto? A penugem sem cor põe-te triste?
Deixa lá... tens uma gaiola só tua.

Ah, por isso mesmo? Não tens por quem cantar?
Por quem manter o viço das penas?

Mas vá lá, trina ao menos para mim...
Que sou quem sempre te renova a água e o alpiste.
25/9/2005

3 Comentários:


Anonymous Anónimo disse...

A poesia é linda...
Mas gosto especialmente dos dois últimos versos...

12/07/06, 23:05  

Anonymous Anónimo disse...

Que maldade a tua... que despudorado em tirar do lago lacrimal aquela gotinha, á superfície. Confesso que estava a mais. soltaste-a

19/07/06, 12:14  

Blogger Cláudio disse...

PAPOILA: Temos que dar valor às coisas simples, mas essencias: como haver um novo dia seguinte que nos é dado de bandeja... devemos trinar em honra destas pequenas grandes coisas. :)

ANGI: please, não me aches presunçoso por citar o Nick Cave: "They're only little tears, darling, let them spill"

I know I'm mean, but I can't help it, you're just so sweet! (Fábio... não me vais desancar, pois não?)

24/07/06, 02:43  

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