terça-feira, julho 25, 2006

Gágágáehihihgágáeheh

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(Yoshimov, Shop)

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Num hiper-mercado, uma senhora conduz um carrinho de bébé. Sentadinho, todo sorridente e a gesticular, vai o filhote. Na sua linguagem criptada – gágágáehihihgágáeheh - certamente que lá vai ensaiando o bê-á-bá para futuros piropos. A mãe enfastiada até à ponta dos cabelos (pretos, longos e sedosos – o chamado entre-parênteses efabulatório) repreende-o desta forma: “Ó... não sabes dizer mais nada?!”. Mas a linguagem criptada continua em todo o seu esplendor. Efabulei cá para mim: se calhar é um bebé-prodígio que se aplica no seu aquecimento vocal - gágágáehihihgágáeheh – para depois começar a recitar Camões... coisa que a mamã aguarda impacientemente, farta que está desses aquecimentos preliminares.
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(daqui)

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Perdi-os de vista e claro que não segui a rota de ambos para ver se o filhote lá conseguia debitar o “Descalça vai para a fonte...” Não sou assim tão cusco e quanto a mini-perseguições estamos conversados: fiquei-me apenas pela Miss Nice. Por acaso ainda ouço uma vozinha a sussurrar qualquer coisa como: “get a life!”. Dizia eu... apesar de não ser assim tão cusco, fiquei a matutar um pouco sobre o assunto (só um pouco porque a minha vida não é mesmo isto...) e se não encontrei respostas formulei perguntas q.b para quem quiser responder por mim. Eis algumas:

- relação mãe/filho ameaçada por falta de diálogo ou por se expressarem em idiomas diferentes?

- um caso precoce mas ainda assim ilustrativo do generation gap?

- mais um caso de pressão parental para que os filhos cumpram os altos desígnios que deles se esperam?

- terá sido aquele episódio a gota de água que a levou a dirigir-se à secção dos livros com a vã esperança de encontrar o “Descodificador dos Anjos e Demónios”?

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P.S. Atenção que não aceito um gágágáehihihgágáeheh como resposta! (data e hora da postagem original: 23/7/2006 - 16:05)

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Adenda:

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(daqui)

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Certamente que não vos passou despercebido o facto de se tratar da mesma criança nas três fotos. Urgia fazer desta feliz coincidência matéria conclusiva para este post.

Na 2ª foto: suponho que esteja a memorizar o "Descalça vai para a fonte...". Porque não um japonês a recitar Camões?!

Na 3ª foto: ostenta em letras garrafais e em caps lock uma das respostas possíveis (não direi que tendenciosa, ou que a versão da criança é suspeita de parcialidade, pois não creio que tenha havido tempo suficiente para ela apreender a arte da duplicidade, apanágio de idades mais tardias) que nenhum comentador ousou dar (não obstante os mui valorosos contributos que mui apreciei)...

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25 Comentários:


Blogger Fábio disse...

Algures na blogosfera, estará a ser colocado um post, imagine-se que num blog chamado www.missnice.blogspot.vom que dirá assim: Estáva no tunel da estação de metro X, sentados num banco estavam um rapaz dos sus 27 e uma rapariga com alguns a menos, pela fisionomia dir-se-iam irmãos. Ele belbuciava, em linguagem encriptada: "where is my mind blá blá blá".. ela olha-o como se o repreendesse/.../a perseguição só parou quando, no Vasco da Gama, decidi fingir que ia lanchar... :))))))

O galrear das crianças deve ser sempre recebido com agrado, nada como o reforço positivo se as queremos incentivar a, um dia, recitar camões sem complexos, ou até, quem sabe, recitar um Cláudio Lourenço.

E nós não somos nada diferentes dos bébes, ainda que alguns de nós tenham mais dentes e maior controlo nos esfíncteres, precisamos de ver a nossa verborreia incentivada.. Pelo menos alguns de nós, como tu!

Abraço!

23/07/06, 17:39  

Blogger Fábio disse...

... No teu caso, evidentemente, verborreia não é conceito que se adeque!

23/07/06, 17:41  

Blogger Cláudio disse...

What the hell?! O meu nome e o de Camões na mesma frase? Lá está o bug informático a interferir nesta troca de comentários... Olha que que se o Camões fosse vivo, certamente vazaria o outro olho para não ter que ler estas ignomínias... :)

Se encontrares um blog levemente aparentado com uma Miss Nice, diz-me qualquer coisa, tá?! Mera curisosidade científica. Queria rastrear os efeitos secundários que as minhas cantarolices podem provocar em terceiros. O facto da rapariga ser bonita nem vem pró caso... (terei suscitado aqui um "pois pois..." ?)

Realmente o que é que a dita mulher esperava que saísse de uma boquita de tão tenra idade?

Tens toda a razão: somos todos bébés! Choramos se nos falta a comida e os mimos, se não nos incentivam a ensaiarmos os primeiros passos (no que quer que seja), se não nos levantam quando caímos, e tal como eles temos sempre um sorriso para quem nos trata com carinho. E ainda tem mais lógica a equiparação da velhice a uma segunda (pré-)infância: pela rarefacção dos dentes e do couro cabeludo, pela debilidade dos esfíncteres, pela dependência gradual a ajudas exteriores...

Ah, mas eu verborreio e não é pouco... Tenho a noção que a minha escrita precisa de ser limada de forma a remover os seus excessos e que tenho de seguir uma via de maior contenção. Mas não é fácil resistir à verborreia, porque em parte é o mecanismo que eu utilizo para construir algumas das minhas piadas (na maior parte piadas falhadas ou a que só eu acho piada).

Os teus "bugs" são sempre bem-vindos, amigo!

23/07/06, 19:27  

Blogger Cláudio disse...

Talvez seja mais correcto dizer se não nos ajudam a levantar quando caímos.

23/07/06, 19:30  

Blogger Maria P. disse...

Diz:
Gugu dádá!

Depois alguém te dá um estalo~.

E diz:

Gugu já deu!

Boa noite:)

23/07/06, 22:00  

Blogger Cláudio disse...

Pois... é no que dá os comentadores serem por norma imprevisíveis... Mas ainda assim, devia ter-me lembrado de proibir também os "gugu dádás" e os "gugu já deu".

Estou a brincar, claro :)
Bjinho

23/07/06, 23:01  

Blogger Fábio disse...

A tua verborreia dá-me ( e pelo que tenho percebido dá-nos) sialorreia, que é com quem diz que salivamos sempre à espera de mais.
Sim, somos todos uns bébés, concordamos então.
E o estímulo que me dás, e o post acima deste, são amparo para algumas quedas, para muitos desequilibrios. Não vou lá comentar, para já, porque fico sem palavras, para além da rotineira: Obrigado
Muitos abraços.

23/07/06, 23:35  

Blogger ana disse...

Fantástico o ultra hipotético cenário de descoberta de perseguição pela Miss Nice do Fábio :))

Quanto ao post, ainda hoje adorei o ggghhhhggg da minha sobrinha...

Beijinho!

24/07/06, 00:23  

Blogger Fábio disse...

Fantástico é ter uma sobrina e poder ouvi-la galrear...
Pois eu tenho uma prima, com 6 meses, que adoro, que quero que seja minha sobrinha, ou qualquer coisa que não prima, mas que só pude ver meia duzia de vezes. A minha mariazina linda, algures em Leiria, a cento e tal km... :(
Beijinhos ana, aproveita bem.

24/07/06, 00:37  

Blogger Cláudio disse...

FÁBIO: toda esta troca de comentários também me tem servido de amparo, sobretudo naqueles momentos de vazio e de dúvida em que me pergunto por que é que escrevo e se tudo isto não será uma perda de tempo... Obrigado amigo pelas tuas palavras, que sem dúvida são uma forma de manter certos ideiais ainda presentes... além de me deliciar com as tuas tiradas humorísticas, como por exemplo colocar o meu nome e o de Camões na mesma frase (tinha que voltar a isto) :)))
Quanto à sialorreia.. é um fenómeno recíproco e de minha parte junta-lhe ainda hipoblogémia, que tal como a hipoglobinémia (corrige-me se estiver errado) compromete a oxigenação vital...

ANA: como diz o Fábio, aproveita bem a ternura dos gágágáehihihgágáeheh - suponho que seja o que de mais se aproxima da voz dos anjos... Os demónios deixemo-los para os criptólogos descodificarem e para as mentes tacanhas. Nessas tenras idades, os bébés são apenas anjos que nos fazem sorrir. Mais tarde, com a explosão de diatribes terão tempo para entrar na dupla categoria dos anjos e demónios (mas também esses nos fazem sorrir. Até lá, repito: aproveita bem, que é algo que faz bemm à alma.
Beijinho pra ti Ana.

P.S. Anjos e demónios para aqui, criptólogos para acolá... mas nunca li nada do Dan Brown. Tenho alguns preconceitos... Por isso pergunto: alguém que já tenha lido alguma coisa dele, pode-me dizer (sem preconceitos) se vale a pena?

24/07/06, 15:40  

Blogger redonda disse...

Ainda não li nada mas vi o filme e não me pareceu mal, excepto na parte final da revelação... e estou contente por finalmente descobrir quem é a segunda pessoa em Portugal que ainda não leu o Código.
Um beijinho

25/07/06, 02:05  

Blogger Fábio disse...

Não, eu sou a segunda pessoa porque não o o li antes do Cláudio. :)
beijinhos

25/07/06, 03:03  

Blogger Cláudio disse...

Redonda e Fábio: assim já me sinto menos só neste mundo dominado pelos códigos... :)

Redonda: Quanto ao filme d' "O código...", o nome Ron Howard (o realizador)não me inspira muita confiança... Mas se não te pareceu mal, talvez veja em DVD quando sair.

Lembras-te do teu post em que falavas do "Música no Coração"? Pois é, ainda não o vi. Certamente que continuo a ser a única pessoa da minha geração que ainda não o viu. Agora convinha-me um comentário de alguém (não precisa de ser da minha idade)que também não o tenha visto, para não me sentir novamente só, desta feita no mundo onde pulsam músicas no coração...

Beijinho.

25/07/06, 03:05  

Anonymous Anónimo disse...

O Código tão falado, também não li nem vi o filme, mas já comprei para férias o Código D`Avintes, que espero, que pelo menos me divirta.
Quanto ao "Música no Coração"...Ah!!!...esse foi visto uma dúzia de vezes...

25/07/06, 10:47  

Blogger Cláudio disse...

A diversão não poucas vezes ocorre à custa de coisas que por serem tão más tão más são boas. Não sei se será o caso do Código d' Avintes, mas depois diga alguma coisa.

Engasgo-me sempre quando trato algum dos meus comentadores na 3ª pessoa. Não me pode aliviar desse fardo, tratando-me por tu para que eu possa fazer o mesmo?

Uma dúzia?! Sendo assim além de continuar terrivelmente só no mundo onde pulsam músicas no coração, começo a remoer a situação e a julgar que se trata de mais um anacronismo gritante da minha parte o facto de ainda não o ter visto...

25/07/06, 15:12  

Anonymous Anónimo disse...

Tens razão. (assim está melhor?)Acho que, se não tivesse visto o filme no "tempo" certo, agora já não lhe achava muita graça...

25/07/06, 16:54  

Anonymous Anónimo disse...

Quanto à repreensão, a minha versão é ligeiramente diferente. Eu ouvi um brutal "Também não sabes dizer nada?!". Gosto de rigor jornalístico, o que queres.

25/07/06, 17:46  

Blogger Cláudio disse...

Papoila: Assim sim... até dá gosto responder aos comentários sem engasgadelas. Nada melhor que um tu-cá-tu-lá. :)

Liliana: Pera lá... Este episódio ocorreu antes do concerto não foi? Portanto a chiadeira nos meus ouvidos ainda não estava instalada. Complicado saber ao certo quem é que agora tem razão... Dava jeito agora um back to the past, para resolvermos este imbróglio. Tudo em nome do rigor jornalístico que tanto prezas. Versões ligeiramente diferentes do mesmo facto suponho que ao longo dos tempos já detonaram "n" guerras facciosas. E eu cá não me apetece nada ser responsabilizado por mais uma...
Beijinhos apaziguadores, mas lá que fico com a minha versão lá isso fico...

25/07/06, 18:15  

Blogger Fábio disse...

Em teu amparo Cláudio, també não faço parte do mundo daqueles cujo coração palpita com música, mas se esse facto me pesa (pouquinho) já pelo outro (browns, coelhos e rebelas pintas) só me sinto leve levezinho

25/07/06, 19:09  

Blogger Cláudio disse...

Fábio: estarás a falar do "Brown Bunny" filme do Vincent Gallo, em que numa das cenas finais ele também fica mais levezinho após um felattio explícito?
Esclarece-me lá...

25/07/06, 19:25  

Blogger Cláudio disse...

Precipitação minha, pensava que estavas a falar de filmes...

Estendi-me ao comprido... :)

Pois... Browns de Dan Brown... Coelho de Paulo Coelho... Rebelas Pintas de Margarida Rebelo...

e não Browns e Coelhos de Brown Bunny e rebelas pintas de outras coisas que me passaram pela minha mente impura...

sorry

25/07/06, 19:30  

Blogger Cláudio disse...

Já que me estendi ao comprido, levanto só mais um pouco o véu ímpio desta mente:

rebelas pintas... pitas rebeldes... etc

Assinei a sentença de morte deste blog, não foi?!

25/07/06, 19:34  

Blogger Fábio disse...

Meu deus, que tragédia dantesca... seu facínora.:)
Não vi o Brown Bunny, mas o buffalo 66 é dos fimes da minha vida....
e o concerto que vi em agosto do sr gallo foi extraordinário...
mas sim, falava de livros, desses pops...
sou muito preconceituoso com essa estirpe que acha que o universo ou conspira sempre para quem merece ou nos manda à merda com estilo e sapatos de vela!

Quanto ao resto: Seu preverso!!!!

(Pitas rebeldes, nunca vi, manda-me uma cópia

:)

25/07/06, 23:41  

Blogger Cláudio disse...

No inferno de Dante em qual dos anéis/níveis é que eu já vou? Situas-me onde? E tudo isto porque nesta nossa vida terrena uma pessoa teima em seguir os encantos de uma "Beatriz"...

Do Brown Bunny não gostei, mas também não odeio como parece ser o sentimento mais comum em relação ao filme. Achei o argumento demasiado minimalista (o que em si não é suficiente para desgostar de um filme), o problema é que tudo parece ter sido escrito para servir um ego inflado até dizer chega. O homem também fez quase tudo o que havia a fazer no filme: o script é da autoria dele, realizou, produziu, representou (a maior parte do tempo levou as mãos aos cabelos; a deitar um daqueles olhares, tipo eu sou mesmo bom; a acelerar na sua moto, etc.), fez a banda sonora (de que gostei), acho que também editou... Enfim, faltou ali uma segunda voz para refrear aqueles ímpetos narcisistas... E quase no final do filme a Chloë Sevigny prestou-se a... Será que o gajo escreveu o filme para... Não vamos por aí, porque acredito na integridade artística do gajo.

Já do Buffalo 66 também gostei muito.

E gosto das bandas-sonoras que ele compôs, não sei se de propósito para os filmes.

Quanto aos livros... têm que ter substância, o que exclui encardenações descartáveis a promover o rosa choque, combinações astrológicas e conspirações como a desses autores.

Não sei o teu endereço, rapaz..

26/07/06, 00:55  

Blogger Fábio disse...

O teu nível de ignonímia raza o nulo, és muito bom para os andares inferiores da mais famosa casa de Dante.

Sim, o ego insuflado do Sr. Gallo é muito evidente, até quando as coisas lhe saem bem. O Buffalo 66 vive numa fragilidade que facilmente podia descambar. São muitos tiques de um assumido pretendente a artista total. Mas merece, ainda, a minha atenção.

Abraços.

26/07/06, 01:29  

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