terça-feira, julho 11, 2006

Interioridades

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De ambos os lados do caminho-de-ferro sucedem-se os canaviais. Assemelham-se a vigias nervosos baloiçando ao sabor da brisa ligeira ou baluartes ressequidos a demarcar um extenso território virgem. A intervenção humana neste lugar recôndito restringe-se à estreita linha-férrea, que começa a acusar os sinais do tempo. As reivindicações dos vários elementos naturais começaram a ser atendidas: ervas daninhas vencem aqui e ali a aridez do cascalho, as tábuas pregadas aos carris apodrecem e o brilho metálico cede à ferrugem baça.
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3 Comentários:


Blogger Maria P. disse...

Lindo, muito bem escrito. Quantos de nós sentem o mesmo: as ervas daninhas que avança e o brilho que se vai perdendo...
Boa noite e beijinho.

11/07/06, 22:51  

Blogger redonda disse...

Gosto muito da fotografia pelos olhos da máquina e o seu ar assustado ao avançar e gostei muito do texto, como de todos que escreves (e estava a ler nele uma vitória da natureza, antes de ler o anterior comentário, depois fiz uma segunda leitura)

um beijinho

12/07/06, 11:48  

Blogger Cláudio disse...

Ao início, quando comecei a escrever este pequeno texto, tinha a intenção de falar sobre um certo abandono que se verifica no interior do país e de como a vitória da natureza pode de alguma forma ser o reflexo disso mesmo.

Depois alterei ligeiramente o texto para permitir uma segunda leitura.

Tive também a sorte de me deparar com esta foto. Acho que aquele olhar pode ser representativo de uma espécie de olhar introspectivo, e como bem apontaste Redonda, um olhar assustado e receoso à medida que se avança pelo nosso interior adentro e se descobrem certas facetas, certas mudanças em nós que não nos agradam... O tal brilho que se vai perdendo como bem viu a Maria.

Daí o título no plural "interioridades".


Obrigado às duas. Beijinhos.

12/07/06, 14:36  

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