quarta-feira, julho 19, 2006

Livros: inscrição na carne

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Nas estantes acumulam-se pilhas de cd’s que ajudaram a preencher o silêncio das horas solitárias e livros que se amontoaram na razão inversa da disponibilidade para os ler. Quando percorro o olhar pelas badanas dos livros, revejo mentalmente não apenas os bons momentos que me proporcionaram, mas também as tentativas frustradas de lhes agarrar a narrativa, de decifrar o seu fio condutor. Por vezes, ainda sinto remorsos por parágrafos inteiros que ignorei e saltei, sem nomear as páginas que fiz desfilar à frente dos olhos, apenas para me entreter com o seu leve restolhar. Os livros sujeitam-se a tudo, a todo o tipo de manipulações, são amigos fiéis, sempre disponíveis a revelar os seus segredos. Por vezes deparamo-nos com frases espantosas que relemos compulsivamente até interiorizarmos cada palavra. Ecoam na nossa mente por longos instantes, julgamos que acenam para nós, que abarcam visões de outros mundos e que são capazes de nos conduzir até lá. Por fim copiamo-las para um caderno, como se selássemos um pacto secreto de mútuo entendimento, de eterna partilha e um sentimento de pertença aquece-nos à medida que as transcrevemos. Ao olhar de um estranho poderá parecer um gesto autómato, mas na verdade deixa de ser cópia ou mera transcrição para se constituir como duradoura inscrição na carne.
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7 Comentários:


Blogger Maria P. disse...

Voltou bem inspirado, parabéns.

Faz favor de não fugir de novo, ou então avisa as amigas, para não ficarmos preocupadas. Ok?

Beijinhos com risos de Maio.

19/07/06, 23:38  

Blogger Fábio disse...

Li uma vez o senhor Sommerset Maugham tentar escrever o que aqui dizes.. Morreria frustrado o senhor por perceber pelas tuas palavras da própria incompetência. Ainda assim vale a pena ler o que diz Sommerset Maugham, na sua autobiografia, chamada "Exame de consciência".

Posso escrever frases tuas em cadernos meus?

20/07/06, 01:41  

Blogger redonda disse...

Não ia escrever mais nada, mas não resisto a subscrever o anterior comentário...fiquei mesmo com vontade de escrever frases tuas em cadernos meus

um beijinho

20/07/06, 03:45  

Blogger Fábio disse...

Será presunçoso agradecer a subescrição? :)
Beijinhos!

20/07/06, 22:25  

Blogger redonda disse...

Isso nunca me tinha acontecido... um agradecimento a uma subscrição... dá-me vontade de agradecer o agradecimento...:)
é capaz de ser melhor pararmos aqui...
um beijinho

21/07/06, 12:31  

Blogger Cláudio disse...

MARIA P. voltei voltei inspirado é que não sei... desculpa lá a rima fácil e beijinhos.

FÁBIO amigo, vocalista promissor dos "Bug" (a maior banda de sempre eternamente adiada), só o facto de sugerires que poderias querer transcrever frases minhas faz-me temer que haja algum bug informático (eheh, o título da banda ao menos serviu para alguma coisa)a deturpar o contéudo dos comentários... E que dirá o senhor Somerset? A esta altura deve andar a revirar-se na campa, talvez a meias com um novo "exame de consciência" (conheço muito mal a obra dele, obrigado pela sugestão), melindrado com o facto de alguém se ter lembrado de o equiparar a um amador como eu nestas andanças da escrita. :) Agora a sério, é para mim difícil conceber um maior elogio que essa subscrição vinda de alguém que escreve superlativamente como tu escreves .

REDONDA, como sou um mãos largas não cobro direitos de autor :) Mas continuo a achar que não escrevo assim nada de especial que valha ser transcrito. Beijinhos.

Obrigado a todos e deixem-me discordar de uma coisa: "é capaz de ser melhor pararmos aqui..." Please, não parem que eu gosto... continuem sempre que vos apetecer, que este blog é feito disso mesmo: de apetites. Este comentário acaba aqui mesmo e não lhe dou espaço para descambar; como eu sou o autor posso parar quando me apetece, mas vocês não párem, ok?!.

21/07/06, 20:12  

Blogger Fábio disse...

Cláudio, tenho tanto para dizer-te e quero faze-lo em tão poucas palavras: Se alguma vez eu estiver (de novo) longe - chama-me, e lembra-me que estou a perder; Se alguma veres deixares de escrever - grita-me, e deixa-me lembrar-te que estamos a perder; Se algumas vezes eu me penso capaz de escrever, é quando existem fragmentos de vida e suspiros de outros ( inspirações\expirações) que me fazem acreditar que é tão bom partilhar. Tu, e as tuas palavras, re-insuflam-me de ímpeto, quando tão fácilmente me podiam esmagar pelo assombroso génio que lhes emprestas. És brilhante.

PS- Que venha, depressa, esse mail.

Redonda... tão querida.Obrigado! Dormirei mais sorridente. Bjinhos

22/07/06, 01:02  

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