O caso hilariante do cegueta
. Estava a minha irmã parada (não interessa para o caso saber porquê) frente a uma loja em Lisboa, com um ar visivelmente cansado (também não interessa para o caso saber porquê, muito menos que uma tal fuga de informação chegue ao conhecimento da minha mãe). Nisto, um senhor de idade, que a avaliar pela espessura das lentes só podia padecer de miopia severa, aproximou-se dela. Fitou-a com uma expressão curiosa – efeito provável das lentes hiper-graduadas que reduzem os olhos a pontinhos minúsculos - e resolveu perguntar-lhe: “A menina está a dormir?”. Incrédula, ela apenas conseguiu acenar um lacónico não. “Ah! Mas parecia...”. Depois, rindo-se da sua própria tirada, acrescentou: “Eheh! A dormir em pé!”.
Aparentar cansaço é uma coisa, dormir é outra completamente distinta. (uau! foi preciso arranjar um blog para escrever um frase desta categoria). Já dormir em pé raia os fenómenos de outro mundo ou para não ir tão longe (por especular com mundos longínquos é que a vida de Giordano Bruno neste mundo terreno foi "abreviada" à força...) teria potencial para figurar entre uns quantos números aberrantes numa feira de variedades em qualquer arrabalde de província. Pois bem... Não acham hilariantes as motivações (é certo que bem-intencionadas) de um míope severo que, confiando a tal ponto (não digo “cegamente”, para não abusar da ironia) na sua performance ocular, se sente na obrigação de acordar uma pobre moça que segundo a sua “óptica” (sou tão mauzinho...) lhe parece conseguir o feito de dormir em pé?! Isto então é de um universo paralelo, cuja explicação deixo para os astro-físicos.
.
(Mr. Magoo)
.
O tal senhor (que por razões óbvias – repararam bem na imagem? - passarei de agora em diante a tratar por Mr. Magoo, em jeito de homenagem à personagem de animação), cegueta que é, lá foi à sua vida. Talvez às apalpadelas... quem sabe? E certas apalpadelas (sim, essas...) talvez se perdoam mais facilmente a um "pobre" cegueta (pobre entre-aspas, pois que acabei de anotar que usufruem de certos privilégios de classe).
Ainda assim, enquanto se afastava e como não ficasse convencido, o Mr. Magoo não resistiu em lançar nova vista de olhos para trás, talvez na crença de tornar a apanhá-la ferrada no sono, isto apesar do curto hiato de tempo decorrido.
O verdadeiro Mr. Magoo também era teimoso que nem uma porta e irredutível na sua versão dos factos, mas ao menos tinha a atenuante de não usar óculos e de não ter consciência da sua condição. Fosse defeito dos óculos ou não, o tal senhor proporcionou-nos (pelo menos a mim e à minha irmã, quanto aos meus leitores não estou certo disso) um daqueles episódios hilariantes ao nível dos da personagem de animação - o Mr. Magoo que ao longo da minha infância me apresentou ao fascinante mundo do non-sense e cuja evidente falta de orientação o conduzia quase sempre por caminhos esconsos, por peripécias perigosas que admiravelmente acabavam sempre bem, como quem escreve, ou neste caso mais a propósito, como quem anda a direito por linhas tortas... .
P.S. . Espero ter conseguido captar nesta exposição a graça original do episódio e de não ter de reformular o título para: “O caso a que apenas eu e a minha irmã achámos piada”. .
14 Comentários:
A primeira frase está cheia de suspense...Também não queríamos saber porquê...
Gostei dos trocadilhos...
Não é que tenho um "chefe" que é o retrato chapado de Mr. Magoo?? Ao princípio, foi difícil conter o riso, sempre que me cruzava com ele. Com o tempo fui-me habituando...
Mais um post que dá prazer ler...
O verdadeiro Mr. Magoo aproximar-se-ia de ti dizendo: "Senhor guarda, aquela árvore (a tua irmã) foi plantada aqui à menos de 10 minutos. Não sei quem cometeu a vileza, mas exijo que a retirem pois está mesmo em frante à janela do meu carro (montra da loja) e agora não consigo sair. Moro longe e não posso passar mais um minuto aqui em Bagdade. Por favor, faça alguma coisa"
:)
A estranha "cortesia" dos estranhos é intrigante. Parecem movidos por uma infatigável necessidade de se fazer notar, de marcar território. É hilariante, de facto, mas por vezes simboliza abandono (dos outros em relação a si, de si em ralação a si).
O teu blog é o mais bem humorado que conheço.
Abraços
Papoila: patrões desses devem ser uma benesse... se forem ceguetas como o Magoo provavelmente não detectam os milhares de erros que cometemos no trabalho...
Fábio: :) Se ele confundisse a minha irmã com uma árvore, eu seria confundido com um poste. E ele não seria o primeiro a falar e a dirigir as suas preocupações a um poste...
Se calhar o homem em vez de Bagdad diria agora sul de Beirute. Não há como ficar indiferente à realidade noticiosa :(
Essa dos milhares de erros, não achei muita graça....
Sou muito responsável!
:)
Tens razão, triste triste :(
Margarida:
Obrigado pelas tuas palavras tão amistosas e caloríficas (caloríficas no sentido de aquecer o ego e de dar ânimo para continuar a escrever).
Estás à vontade para me tratar por tu, claro. Em relação aos amigos do Fábio, mesmo os que não conheço pessoalmente, tenho logo à partida as melhores das impressões. O Fábio é uma excelente referência: o rapaz só conhece gente especial. E calculo que tu também não foges à regra. :)
Ai! que ao Correia de Campos ainda lhe passa pela vinheta encerrar os blogues nacionais... Lá teremos depois que rumar todos a Espanha...
És sempre bem-vinda. Beijinhos pra ti também.
Papoila: pronto, dezenas de erros...
Vês (tão bom tratar uma pessoa por tu) como até sou generoso, saltei as centenas... :)
Não há bombons para mim! Não comento!!!
Maria: Não há bombons?! Espera um segundo que o Mr. Magoo ficou de mos ir comprar a uma loja... A verdade é que não lhe devia ter delegado essa tarefa. Nem quero imaginar no que ele vai acbar por trazer...
Mesmo sem bombons, vá lá comenta... porque a resposta depois até pode ser doce... :)
Resposta doce...agora fiquei com água na boca!
Vou comentar:
Adoro o que escreveste!
Adoro a tua irmã!
Adoro o Mr. Magoo!
Adoro dormir em pé!
Adoro não domir em pé!
Adoro... já mereço o doce?
(desculpa estas brincadeiras)
Podemos mudar de amuado?? SE Sim, posso ser eu a queixar-me, agora, de falta de antenção?
(PS, a tua irmã está cá em Lisboa? Onde?)
Maria:
Adoras a minha, adoras o Mr. Magoo, adoras outras coisas inteiramente válidas que só a ti dizem respeito (mas já agora obrigado por patilhares isso connosco)... adoras os meus escritos... mas então e a mim?
Ai que assim não vai haver bombom, mesmo que o Mr. Magoo mos traga...
Espera um momento, que acabei de captar uma subtileza: um dos sinais de rotina de vida de um casal, pode ser por exemplo o marido elogiar os cozinhados da esposa, mas esquecer-se de lhe dizer que a ama... Pois bem. Elogias-me os escritos (como o marido elogia os cozinhados) e esqueces de dizer que me adoras (ainda por cima elencas todos menos eu). Será isso um sinal de rotina entre comentadora e blogger (que sou eu)? Ai!
:) desculpa estas brincadeiras também
Fábio: esta resposta já vem muito tardia para trocarmos de amuados. A minha irmã estuda em Lx. na Fac.Letras. Yeap. (como ela costuma despedir-se nos seus comentários)
Muito falas tu da tua irmã. Não tens vida própria????!!!!!
Gosto muito do teu blog acompanhado com cerveja e strawberrycheescake.
Não há nada como receber do anonimato um "Não tens vida própria????!!!!!" Dá-nos a possibilidade de nos refugiar na ideia de que o(a) anónimo(a) também possa não ter vida própria :) Não me leves a mal por estas brincadeiras...
O meu blogue está aqui mesmo para isso.. para abrir o apetite... ;)
Confesso que nunca fiz essa combinação de cerveja e strawberrycheescake, como tantas outras coisas que nunca provei...
Por falar em povar... prova-me (não é a mim, por enquanto contenta-te com o strawberrycheescake) que não és alguém que eu não conheça... Tenho as minhas suspeitas de quem possas ser. Mas também posso estar enganado. Volta sempre em anonimato ou não. :)
Enviar um comentário