sábado, julho 22, 2006

O “get a life” antes do concerto dos Pixies

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Sentados, à espera do metro, comecei a cantarolar para a minha irmã – tadinha! - alguns dos refrões mais badalados dos Pixies. Ela deve ter julgado que eu pretendia estragar antecipadamente todas as expectativas que ela alimentara em relação ao concerto. Confiei que o volume de som estivesse devidamente ajustado para que apenas ela – pobre cobaia! - me conseguisse ouvir. E como é óbvio, confiei mal. Porque nisto passa uma rapariga que por instantes fixa os olhos em nós. Imagino que com um ar intrigado de quem se interroga “Será que é mesmo daqui que provêm estes grunhidos?”. Depois da confirmação que sim senhor eu era a fonte de poluição sonora, ela lá conseguiu (não sei como) seguir a sua rota sem aparentar grande constrangimento. Há pessoas com nervos de aço!
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Quando o metro chegou, calhou entrarmos na mesma carruagem. Chegados à gare do Oriente, resolvemos armar-nos em detectives e seguir a rapariga. Ah pois é! Escutar os grunhidos do Cláudio paga-se caro! Mais caro do que entrever o Papa em underwear!

A todos os temerários que já não receiam autos-de-fé (atenção que eu não garanto ao estimado leitor - que neste preciso momento se encontra à beira de pisar solo sacrílego -, que ele não venha mais cedo ou mais tarde a fazer-me companhia na incómoda situação representada na figura aqui em baixo: presos a uma estaca e igualmente em underwear - ironicamente o objecto detonador de toda esta trama - em vias de representar publicamente o desditoso número da tocha humana)

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dou-vos a oportunidade de embarcarem comigo nesta barca infernal que é a imaginação e remar em direcção (infelizmente para as nossas mentes, trata-se de uma via sem retorno) a uma das mais sacrílegas imagens mentais que em má hora concebi - a do Papa em underwear:

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Pronto, mais um anátema para a colecção! Este blogue já deve fazer parte dos excomungados... Repararam no contraste branco/preto e na largueza do underwear? Grrrrrh... spooky! Sobreviveram à jornada? O meu cérebro depois disto parece ter ficado com sérias sequelas. Paga-se mesmo caro uma tal afronta... e os danos reflectir-se-ão provavelmente em futuros posts. Adiante.

Esta nossa saga detectivesca veio mais ou menos no seguimento do que tínhamos estado a falar acerca do tema “Get a life!” (para os rapazes e o mundo L existe também a variante “get a wife!”). Em bom português o tema tem o seu correlativo: “Não tens vida própria?”. A expressão aplica-se a todos os súbditos do nefando império da coscuvilhice, aos acólitos dos reality shows e dos tablóidescos gossips, que da realidade só retêm mesmo o espectáculo e o fogo-fátuo.

Quero deixar bem claro que foi a nossa estreia nestas andanças, que isto de seguir pessoas não entra na categoria dos hábitos e paranóias familiares. Justificações para uma tão estranha atitude? Aqui elenco algumas, sem querer penitenciar-me: uma pessoa que vai a um concerto tem que preparar minimamente a sua veia transgressora (uma veia ligeiramente dilatada nunca fez mal a ninguém); o fare niente enquanto não se chegavam as horas do concerto (claro que há formas mais interessantes de ocupar o tempo); o desejo de por instantes dar largas ao
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que pulsava dentro de nós... Mas como é que é, hein? Uma pessoa tem que arranjar justificações para tudo? (pergunta retórica que não passa de uma fuga para a frente e que à sua maneira também funciona como justificação, passe a redundância).
Quanto à rapariga – a beleza, o top rosa, a mochila Nike* e o ar simpático que emanava dela, valeram-lhe o epíteto Miss Nice – seguimo-la durante uns minutos ao longo do Centro Comercial Vasco da Gama e por respeito à sua privacidade de mastigação e de deglutição deixámo-la em paz quando resolveu fazer uma pausa para lanchar.
No final desta mini-perseguição policial chegámos aos mesmos pressupostos: que é relativamente fácil uma pessoa embrenhar-se na vida alheia e descurar a nossa (fazer pela vida - pela nossa, claro está - dá mais trabalho, não é?), que a vida dos outros parece sempre mais entusiasmante (mas o que parece nem sempre é) e que se deixássemos, o “Get a life!” também se nos podia colar na perfeição... .
* Lá teve a minha irmã que gramar com uma pequena nota de erudição e vocês, que agora estão a mesmo a jeito, também não escapam: Niké - deusa que na mitolgia grega personificava a vitória. O facto de representar o espírito triunfal e por ser capaz de correr e voar a altas velocidades influíram sem dúvida na escolha do nome para a marca de calçado/vestuário desportivos hoje mundialmente conhecida.
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(baixo relevo da deusa Niké em Êfeso)
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14 Comentários:


Blogger Maria P. disse...

Há dias que não se pode ser tua irmã!!Coitada...

Afinal conheceste a rapariga ao menos?

Beijinhos, detective.

22/07/06, 20:13  

Blogger redonda disse...

Achei mesmo interessante esta perseguição... :)

um beijinho

22/07/06, 22:15  

Blogger Fábio disse...

E que tal concerto? Para mim teria que ser get a headphones, que não me dou lá muito bem com o frank black!! :))
Estiveste cá em lisboa sem dizer nada! É um ultraje!

22/07/06, 23:36  

Blogger Cláudio disse...

MARIA P. a minha irmã já está calejada e além disso, apesar de parecer mais calma que eu, ela é capaz de ser um bocadito mais tresloucada. Mas tudo em doses q.b., claro.
Não conheci a rapariga, nem sequer houve essa tentativa... Por vezes as primeiras impressões podem ser o tudo ou nada. Cá para mim, ouvir-me a cantarolar deve ser daquelas coisas que definem logo o perfil negativo de uma pessoa. Por isso, mesmo que eu tivesse sequer pensado em querer conhecê-la e se desse esse passo, ela pôr-se-ia a milhas...

Neste post http://estadocivil.blogspot.com/2006/07/as-impresses.html , o Pedro Mexia diz coisas muito interessantes a respeito das primeiras impressões...

23/07/06, 01:16  

Blogger Cláudio disse...

REDONDA, já posso dizer que persegui alguém por uns minutos. :) Não sei se isso abona lá muito a meu favor, mas pronto... Nem quero pensar na cara com que eu teria ficado, se se tivesse dado o caso dela se ter apercebido. Beijinho!

FÁBIO, realmente ainda pensei em dizer alguma coisa, mas entre pensar em dizer e dizer mesmo intrometeram-se os "mas" e os "talvez" do costume... mas ele e a Angi são capazes de estar a trabalhar ou então chegam estafados do trabalho... mas o concerto vai certamente acabar tarde e vai ser dificil combinar alguma coisa com eles, visto que no dia seguinte é novo dia de trabalho... talvez seja melhor aguardar por melhor oportunidade e combinar as coisas para um fim-de-semana...
De facto não deixa de ser um ultraje.

Quanto ao concerto, vou falar disso em breve num post. Gostei. A banda cumpriu a rigor, mas sem grandes surpresas.

Só uma nota, para qual me chamou a atenção a minha irmã que é fã dos Pixies: o tipo muda de nome consoante toca na banda ou a solo. Na banda é Black Francis, a solo é Frank Black. Manias de estrela! O que se há-de-fazer, né?

23/07/06, 01:33  

Blogger Fábio disse...

Ai Ai tanto mas empertigado e tanto talvez perspinete!! :) Já viste as horas a que costumo estar acordado? achas então que o concerto poderia acabar tarde de alguma forma?? Não tenho o teu nº telefone senão ligava-te agora, acordava-te calmamente e desancava-te sem perdão. Agradece ao zé que tem demorado a dar-me o teu nº...
Quanto ao FB\BF... enfim... ainda viremos a descobrir que faz parte do "raio-de-sol", assumindo o heterónimo de teclista Amândio!

23/07/06, 04:14  

Anonymous Anónimo disse...

Oh menino, qual trabalho qual quê... Não sabes como eu sou vagarosa com as coisas? (e que raio de desculpas mais esfarrapadas)Para mim são oito da manhã neste momento, faz as contas... O que me trouxe aqui: porque raio demoras tanto a postar mais qualquer coisa? Há aqui pessoas á tua espera:)

23/07/06, 15:41  

Blogger Cláudio disse...

ANGI: Pois, estou a ver que me estou a esfarrapar de cima a baixo com essas "desculpas"... A partir de agora, mal surga uma oportunidade, mesmo que aparente ser de difícil concretização, vou passar a ignorar por completo a parte reticente do meu cérebro que me dita os "mas", os "talvez" e os "se's"! A verdade é que quero mesmo reencontrar-me com vocês um dia destes.
Quanto a demorar a postar... Sermos vagarosos com as coisas, talvez seja mais um ponto que temos em comum... :)

Um beijinho

23/07/06, 17:07  

Blogger Cláudio disse...

FÁBIO: És capaz de ter acertado na "mouche". Durante todo o concerto o sr. Black Francis não se dignou em tirar os óculos-de-sol. Com os novos elementos que me acabas de fornecer, começo a ponderar a hipótese de se ter tratado de uma operação de marketing ao "Raio-de-Sol"...

Do que me livrei! Desancar-me os tímpanos é que não! Ainda por aqui anda uma chiadeira insistente desde a exposição aos décibeis do concerto... :)

23/07/06, 17:15  

Anonymous Anónimo disse...

Mas mano... eu não sou fã (até me engasguei com esta palavra) dos Pixies! Não e não. Gosto muito de Pixies, de facto. Desbundei bastante no concerto. Mas... não exageremos. Se nem conheço as letrinhas todas de cor! Além disso, não comprei a t-shirt que dizia "Dead to the Pixies".

Não sou fã dos Pixies, definitivamente.

Liliana

25/07/06, 13:43  

Blogger Cláudio disse...

Desculpa maninha pela desinformação. Quem conta um conto acrescenta sempre um ponto, mesmo que no meu caso eu pensasse estar a ser fidedigno ao conto.

Então está explicado... por isso é que querias tanto a t-shirt "Dead to the Pixies"... O marketing hoje em dia prevê todo o tipo de situações... está bem pensado: uma t-shirt para não-fãs. Com uma inscrição dessas, só pode...

Mas espera lá se fosses mesmo uma não-fã terias comprado...

Bem, a verdade é que eu também dei argumentos suficientes para não a comprares...

Beijinhos e porta-te bem aí por Lisboa... ;)

25/07/06, 15:24  

Anonymous Anónimo disse...

Pois. Mas eu também não sou mesmo uma não-fã (resposta óbvia à L.).

Eu só queria aquela t-shirt porque as minhas t-shirts estão todas rotas e velhas. E assim não teria que ir à loja comprar. Lixaste-me a oportunidade só isso!

Odeio Pixies.

Beijinho :)

25/07/06, 17:09  

Anonymous Anónimo disse...

Ouvi um "get a life" na segunda-feira no WC da gare e fiquei maravilhada.

Yeap!

25/07/06, 17:27  

Blogger Cláudio disse...

As coisas que tu ouves nos WC's... Suponho que os WC's aí em Lisboa, pelo menos os das mulheres, devem ser pontos de emergência para desabafos e mexericos, além das emergências fisiológicas, claro está...
:)

25/07/06, 18:58  

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