segunda-feira, setembro 18, 2006

Eu sei, a efeméride já data de há uns dias atrás, mas como nunca aqui escrevi nada sobre o 11 de Setembro de 2001...

.



.
Nesse dia [11-09-2001] estava a estudar ao som do "Vespertine"* da Björk, enquanto o meu gatinho** (tinha cerca de 3 semanas) tentava trepar pelas minhas pernas acima para se aninhar no meu colo. Por um lado sentia-me como uma daquelas figuras representadas num quadro de interiores (bem instalado, sentado e sereno***, alvo da atenção de um gatinho), enquanto pela televisão me chegavam essas imagens de puro horror que em tudo contrastavam com a normalidade em meu redor. Chocou-me imenso, como a todas as pessoas. O estudo nem pensei mais nele sequer. A tarde passei-a agarrada ao ecrã da TV, a trocar impressões, dúvidas, incompreensões...

O mundo tornou-se mais cinzento. Pelo menos o mundo que nos chega pelos noticiários. Mas não é cor que queira impingir à minha vida. Cada um à sua maneira deve fazer o mesmo. Não num sacudir de capote, nem fingir que nada se passa à sua volta (ainda que distante), nem que nada nos atinge. Mas também não ir ao outro extremo que é sofrer pessoalmente com cada dor que nos chega via TV. Imaginem o que seria se não nos conseguissemos "desligar" um pouco do teor das notícias? Daríamos em doidos, viveríamos num sofrimento constante pela dor alheia. Talvez a TV nos conduza a alguma insensibilidade pelo carácter repetivo dessas notícias, pela habituação (se é que se pode falar nesses termos) que se gera aos níveis de violência...

Quando alguém se implode num autocarro... que podemos nós fazer pelas vítimas? Geralmente fazemos pouco ou nada. Condenamos o acto, enraivecemo-nos, lamentamos, sentimos tristeza e empatia para com o sofrimento dos familiares... Mas para além disso que fazemos de concreto?

Importante é não nos alhearmos das nossas vidas, nem das pessoas que nos rodeiam, das que verdadeiramente gostamos, das que nos são próximas. Em relação a elas não temos que nos sentir de mãos atadas quando pressentimos algum problema. Está ao nosso alcance ajudá-las quando precisam. Aí e no nosso dia-a-dia podemos dar o nosso contributo, fazer algo de palpável.
.
* Até à data, o meu álbum preferido dela.
**
Inicialmente estava contra a sua vinda para nossa casa. Mas depois afeiçoei-me a ele. Agora é o protótipo do vadio que já não liga nada a ninguém, a não ser quando lhe interessa ou lhe cheira ou simplesmente porque dá-lhe em sentir-se carente e a apetecerem-lhe mimos.
*** Eu sereno a estudar? Deves estar parvinho de todo...
.
P.S. Este post foi repescado na íntegra de um comentário que tinha feito a um post no blog Dona-Redonda. Não é meu costume aproveitar comentários meus para fazer deles posts. Fi-lo agora porque me dou conta que não fiz aqui nenhuma referência aos cinco anos volvidos sobre o trágico 11 de Setembro e porque sou demasiado preguiçoso para escrever um de raíz.
.

2 Comentários:


Blogger redonda disse...

Não és nada demasiado preguiçoso para fazer um de raiz e acho que fizeste muito bem em repescá-lo porque está muito bem escrito.

Um beijinho

18/09/06, 21:39  

Blogger Cláudio disse...

Fiquei contente quando recebi o teu mail a dizer-me que podia fazê-lo, que não te importavas de maneira nenhuma. Apesar do comentário ser meu, achei por bem perguntar-te antes, porque também a ti, de alguma forma, te pertence, não é?.. uma vez que foi o teu post que lhe deu origem... Os méritos, se os houver neste texto simples, estão entã repatidos por nós os dois :) Obrigado pelas tuas palavras, mesmo quando me desmentes :) É que a preguiça é mesmo um dos meus pecados capitais...

Beijinho.

19/09/06, 05:24  

Enviar um comentário