quarta-feira, setembro 27, 2006

Lar

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I
Cada passo é inscrito no cartão de visitas do alpendre.
Os cansaços trilhados, retidos no preâmbulo do tapete.
O roçar das cerdas que à entrada evoca as andanças de mais um dia,
levanta a última poalha antes que ele assente e o demos por findo.
Transpor o umbral é tão seguro como aninhar-se numa dimensão aveludada,
para rezar no templo climatizado que em família se erigiu para si.
O ócio é o ritual eleito, a receita prescrita e cumprida a rigor
pelo sacerdote, pelo médico - de que todos julgamos ter um pouco.
Por vezes, no ninho que julgávamos tão acolhedor
esconde-se em deleite a ave de rapina a trinchar
a casca ovóide dos preciosos totens do lar.
2/9/2005
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II

Aranha que abandona a laboriosa teia
que desliza pelos trilhos de seda que improvisa
aspirando a um lugar farto e seguro
longe dos pauzinhos que espiolham o seu lar.
4/10/2005

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