terça-feira, outubro 10, 2006

Fog

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Num calafrio, senti a sua respiração atrás da nuca. O nevoeiro cerrado cobriu-me então por inteiro. Inflitrou-se-me por entre as malhas da roupa e os poros à superfície da pele não podiam de modo nenhum oferecer-lhe resistência. Disseminou-se rapidamente pelo sangue e pela linfa - a humidade é o seu meio -, espalhou-se por todo o corpo. Foi-me roendo os ossos com especial prazer. Previdentes haviam dado pela sua aproximação, mas nada podiam fazer. Comprovaram que a sua dentição é mole, mas ainda assim capaz de ir inscrevendo uns caracteres para que eu os decifre. Repito-os para mim mas não lhes apreendo o sentido. São caracteres que uma vez lidos se dispersam como a humidade. Pelas pequenas lascas ósseas percebi apenas que me havia exposto demais ao relento e que me deixei inocular pelo seu hálito. O comodismo paga-se, nem que seja por consentirmos que o nevoeiro germine em nós. Felizmente acredito que com uma forte expiração, conseguirei expulsá-lo de mim. Mas por enquanto ainda estou sem fôlego.
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