segunda-feira, outubro 09, 2006

Scott Walker – “The Drift”

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Remetido à condição de ouvinte que assiste a uma encenação sonora. (No meu sofá, não me recordo de alguma vez ter sido transportado assim para uma plateia). À deriva com uma voz única, agonizante, dolorida, que por vezes se suspende numa pausa quase teatral. E depois... rasgos de violência como aço temperado em desespero, por sobre um fundo negro, desolado, presente do início ao fim. E sons secundários como tinires de navalhadas finas nos arrabaldes. Ecos de passos em pedra fria. Descida interminável às caves frescas e sombrias de um cenário de horror. Às catacumbas onde nas reentrâncias escavadas na pedra se perfilam as órbitas dos nossos medos. Pam, pam, pam. O bater furioso e insistente à porta. Podia ser à nossa. A estranheza faz-se sentir do lado de lá. Acaba por chegar até nós através do bloco maciço. Numa linguagem incomum, dá-nos a opção de nos demorarmos o tempo que quisermos a decifrá-la. Diz-nos também que não é um álbum para todas as tardes, nem para todas as alturas. Que a devemos escutar em doses homeopáticas, com os sentidos bem atentos e muita disponibilidade anímica.
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P.S. . Deixo-vos um link para o vídeo-clip do tema "Jesse" (3ª faixa do álbum).
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