segunda-feira, janeiro 01, 2007

First day inner voice

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Colunas de som emudecidas, exigência da minha inner voice. O corpo dobrado sobre o sofá de sala, sem reacção, amachucado e esquecido de si, como um pano de cozinha repleto de manchas à espera de ser atirado para a máquina. A impossibilidade de fechar os olhos, de olhar para dentro o abismo que se vai cavando cada vez mais profundamente. O tempo só dá sinal de não se ter suspenso, porque a luz do dia vai desaparecendo pelas frinchas dos estores. O que até é bom, dado que às escuras as lágrimas deixam de turvar a visão. A transparência líquida do luto, já não visível, passa apenas a ser notada como fonte de humidade.
Em redor os objectos foram todos engolidos pela noite. Tento recriá-los mentalmente para ter com que continuar a prender a minha atenção e não passar a dispersar-me por outros pensamentos. A noite baila-me nos olhos, comunica comigo como se me estivesse a impingir os seus graus negativos.


O telefone toca, violentando o silêncio. Uma chamada para mim. O esforço de erguer um corpo pesando toneladas a mais. O equilíbrio precário a cada passo. Tentativas de fazer vibrar um pouco as cordas vocais. Palavras balbuciadas com aquele automatismo de último recurso, que não se sabe bem onde se vai buscar. Um desabafo e a disponibilidade de um amigo para ajudar. O não poder revelar a ninguém o que verdadeiramente me consome. Subitamente, um afluxo de sangue ao cérebro. O enjoo. Os calafrios. A despedida à pressa.

No W.C., o queixo pousado nos joelhos, mãos entrelaçando as pernas. Olhos seguindo as linhas dos azulejos. O pedido de uma fractura no espaço, milimetricamente condizente com a estreiteza das linhas, por onde pudesse ser tragado.

Dedos trémulos a teclarem estas linhas. Pausas e recomeços. O avolumar do choro sem nunca conseguir exceder o limiar de umas quantas lágrimas. A contenção quando o que se quer é o contrário: o alívio, sempre breve, mas ainda assim alívio. O que se segue à enxurrada.
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