Que sabem as sombras?
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Que sabem as sombras? Que por mais que estiquem os braços virá, terrífica, inadiável, a luz negar-lhes a existência e a passagem ao mundo que aspiram? Saberão da sua imaterialidade? Da sua plasticidade e deformidade? Do seu alongamento e encolhimento ao sabor de humores desconhecidos? Do seu negrume efémero, dos seus cinzas intermitentes? De como são projectadas ao longo de superfícies que ora lhes são lisas, rugosas ou angulosas e lhes esbatem os contornos? Que estão sujeitas à rotação de um foco de luz que lhes é hierarquicamente superior e inclemente face aos seus pedidos e desejos? Que a sua condição é a de não terem olhos e intuírem o mundo à distância com que são geradas? De nunca saberem que porção de terra irão ocupar mal o novo dia se erga? Que a busca por um sinal de abertura é colocar a fasquia mais alta que a parede e mais rasa que o solo onde sobrevivem a custo? Será o silêncio que as acompanha indício de conhecerem uma ou outra resposta e lhes ter sido vedada o poder da fala, da revelação, para não caírem na tentação de trair a velha lei, segundo a qual cada um de nós deve encontrar as suas?
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