quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Cerimonial de quê?

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O estranho fio de som proviniente do órgão, às mãos de Nick Nightingale, e que se suspende como num único compasso de tempo, esbarando na indefinição cénica. As pancadas sinistras, introdutórias pancadas de Moliére. Uma voz oriunda de outro mundo. Nightingale, de olhos vendados e de costas voltadas para a audiência, sem fazer grande ideia da natureza do cerimonial. Eyes wide shut, mas certamente sensível aos sons que o rodeiam enquanto toca. Leves suspeitas que se vão somando e perdendo o freio a irreprimíveis fantasias. A câmara de Kubrick incisiva no cortejo de máscaras. Conjugação arrepiante de som e imagem. Encontro imediato com a pura essência cinematográfica. Antes de se perceber do que se trata, mil possibilidades nos ocorrem. Queremos ler na impassibilidade das máscaras a resposta certa. Mas elas negam-se e reprovam-nos com o seu esgar qualquer tentativa de advinharmos o que quer que seja antecipadamente. Nisso, mais uma vez, a mestria de Kubrick, a conduzir-nos literalmente a seu bel-prazer.
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"Masked Ball", da autoria de Jocelyn Pook
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