sábado, março 17, 2007

Cega

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Durante longos, inconsequentes anos, a vida foi Sega frente a um ecrã de televisor; a coluna, curvatura de sofá; as nádegas aplanando-se no assento; os olhos pesados como halteres; os dedos como se batessem furiosas castanholas. Balanço negativo - a vida lá fora tão bonita, irremediavelmente dissipada; livros esquecidos nas prateleiras; défice cultural e social. Ai o social e o mais que se omite... Não sei como sobrevivi. E, sim, a história inverte-se: agora é a minha vez de temer pelos jovens de hoje. Mas porque raio não deixo o sótão em paz? Se pudesse voltar atrás, em vez de jogar, acho que as minhas tardes, à falta de melhor, teriam sido bem mais interessantes se passadas a ler a extensa correspondência entre o James Joyce e a sua esposa Nora...
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