Auto-bio-grafar/-pregar
. E se alguém vos dissesse que a auto-biografia é um género literário que persegue ainda em vida o que, indesmentidamente, se crê que só se alcança com a morte? Sentir-se-iam dissuadidos, ou, pelo contrário, incentivados a redigirem a vossa própria biografia sob o signo dessa sugestão com o seu quê de escatológico? É bom que estejam alertados para a inclemente queima de neurónios e pestanas que tão pirómana tarefa comporta. Sem querer ferir susceptibilidades, pergunto ainda: esperam realmente receber um prémio de consolação para dias e mais dias de louca insistência nesse esforço de Sísifo que é deslindar as linhas com que se inscreve uma vida? Acreditam na pacificação interior obtida no último ponto final, à semelhança da paz que se infunde do último prego, do último arremesso de terra sobre o caixão? Para os mais incautos, como eu, toda a advertência é pouca. Portanto, cuidado com os oásis longínquos que, de nenhures, nos iludem com as suas trémulas ondas de calor. É que também nisto dos blogs existe a tentação de nos auto-biografarmos. E se nos pomos a isso com falsas esperanças é uma chatice. Falo por mim, of course. .
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