“Bubble”
.
.“Bubble” de Steven Soderbergh é no mínimo um filme perturbante. A ambiência lembra-me um pouco Hitchcock e Chabrol em versão contida, mas sobretudo os irmãos Dardenne. O código de valores é o da América fabril, dos que se revezam entre dois empregos. Os rostos quase imperturbáveis, as respostas monossilábicas, seres fechados dentro de si, silenciados numa rotina de trabalho e cansaço, talvez contagiados pelo terrível silêncio das bonecas na linha de montagem que pacientemente vão produzindo na fábrica. Martha, a figura central do filme, em cuja candura se advinha um rosto de boneca, de olhos azuis capazes de encerrar segredos insuspeitos, é das poucas personagens que tagarela, que procura ir ao encontro do outro. Nos demorados close-up prestamo-nos a jogos de indagação. Fazem-nos desconfiar que, sob a aparente normalidade, toda ela borbulha por dentro, dilacerada por solidão e anseios de correspondência, por alguém que a procure verdadeiramente e não apenas para que lhe peçam este ou aquele favor. Fugindo da superfície, da visibilidade, vamos pressentindo que uma bolha lhe molda a vida interior e que determinadas circunstâncias podem detonar. Um rosto iluminado, o olhar próximo da epifania, nem por isso deixam de ser sinónimos de dualidade. Exemplificado fica que a maldade nem sempre é exercida conscientemente, que o bem e o mal são conceitos relativos que andam a par. .
0 Comentários:
Enviar um comentário