Maria Madalena
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“Mary” de Abel Ferrara é, até certo ponto, o que se costuma apelidar de um filme dentro de um filme. Juliette Binoche é Marie Palesi, uma actriz que desempenha o papel de Maria Madalena (uma das mulheres que ao terceiro dia após a crucificação se dirige ao sepulcro de Jesus e testemunha o seu desaparecimento). Durante as filmagens algo toca profundamente Marie Palesi. No fim da rodagem separa-se dos restantes elementos e enceta a título individual uma peregrinação, tanto exterior como interior, por Jersuslém. Uma busca inspiradora, pela coragem necessária para romper com o estado das coisas e se desligar de uma vida apesar de tudo confortável, certamente plena de desafios e experiências ricas, mas ao fim e ao cabo insatisfatória, incompleta, desligada da sua voz e vontade mais íntima. Tanto mais inspirador porque rupturas, à partida, garantem tudo menos um ponto de chegada e ao desprendimento das amarras opõem-se forças de bloqueio por norma paralisantes.
Sobre Maria Madalena, mesmo quem pouco ou nada saiba sobre a matéria (como eu), encontra aqui assunto de reflexão. Perceberá, até certo ponto, porque motivo, ao longo dos séculos, a Igreja, se não a considerou uma verdadeira ameaça, pelo menos a encarou com acirrada desconfiança. Em hipótese, Maria Madalena, a figura histórica, a mulher, parece-me antecipar em valor as questões de uma contra-reforma: a busca de Deus sem intermediários; ninguém a interpor-se entre o «eu» e o «divino»; a busca do «divino» em nós e nos outros. E por aqui, muito justamente, indica-nos também o caminho para a igualdade entre sexos, tendo-lhe valido, infelizmente, múltiplas inimizades que a relegaram, quando não ao esquecimento, a um papel mais que subsidiário: desde Pedro, passando pela Igreja de que foi fundador, às tradições vigentes e perpetuadas ao longo dos tempos..
Sobre Maria Madalena, mesmo quem pouco ou nada saiba sobre a matéria (como eu), encontra aqui assunto de reflexão. Perceberá, até certo ponto, porque motivo, ao longo dos séculos, a Igreja, se não a considerou uma verdadeira ameaça, pelo menos a encarou com acirrada desconfiança. Em hipótese, Maria Madalena, a figura histórica, a mulher, parece-me antecipar em valor as questões de uma contra-reforma: a busca de Deus sem intermediários; ninguém a interpor-se entre o «eu» e o «divino»; a busca do «divino» em nós e nos outros. E por aqui, muito justamente, indica-nos também o caminho para a igualdade entre sexos, tendo-lhe valido, infelizmente, múltiplas inimizades que a relegaram, quando não ao esquecimento, a um papel mais que subsidiário: desde Pedro, passando pela Igreja de que foi fundador, às tradições vigentes e perpetuadas ao longo dos tempos..
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