quarta-feira, setembro 19, 2007

Sinal horizonte

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David Ligare, Penélope
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O tempo passa, deixa suspensas: palavras, intenções. Dar sinal exige-nos um código de improvável ajuste e o fumo não é nosso domínio. Ser pegada no areal é coisa de peregrino arribando em extensa ilha. Nem espuma de aproximação, que essa evita-nos os pés. Baixar âncora e recolhê-la de seguida: também aqui não se está bem. Distância, solidão: elementos que se entranham, em qualquer parte. Sobra a memória de um horizonte, a perder de vista. Um fio de espera que por instinto contemplamos: de tão virgem, o globo continua desafiando. Frente ao olhar, cai e levanta-se, sem interrupção, um mar de afectos, ora calmo, ora revolto, cuja única razão de ser é um eterno deslizar por entre dedos. Crer que se pode suster uma porção e sentir o todo é a intuição de qualquer banhista. Fruição e partilha: aspergi-la à nossa volta como maresia. Que nos dilate os pulmões e aos da nossa estima. Vacila a forma de o tornar possível: parece não fazer sentido, o código. Parece nem existir. Sem cartilha, entregues à dúvida e ao improviso, ao fundado receio das sensações - corpúsculos de éter na praia. Estendidos na toalha, no limiar da volatilização, quase sintonia com a seiva animal. Livres, rebeldes, arde o sol sobre nós. Arde como só as ilusões: apagam-se e renovam-se todos os dias. Magma por demais longínquo, mas sempre latente em cada poro. No sussurro da respiração a voz sábia, o valioso ensinamento de um novo inspirar. Inspirar, expirar e inspirar de novo.
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1 Comentários:


Blogger Maria P. disse...

Espero que guardes estes tesouros muito bem para que não se percam.

Beijinho e bom fim-de-semana.

22/09/07, 15:53  

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