segunda-feira, outubro 06, 2014

Leituras mais "sérias"



Apetece-me escrever sobre uma das primeiras feiras do livro com que me deslumbrei. Devia ter uns 12 ou 13 anos. Lembro-me de cirandar por entre as mesas da biblioteca da escola, onde decorria a pequena feira, meio perdido e fascinado com a quantidade de livros, com o colorido das capas, com todos aqueles nomes de autores que eu desconhecia. Corri as mesas todas à procura do livro ideal para fazer o salto para outro tipo de leituras que não os livros de "Uma Aventura" ou os enigmáticos casos do sr. Hitchcock. Algo que não o intimidatório Eça. Nisto ia trocando impressões com um amigo, igualmente aficionado por livros. Passávamos livros para as mãos um do outro e perguntavamo-nos que tal este ou aquele autor, se o livro valeria a pena. Mas nem eu nem ele tínhamos propriamente quem nos guiasse nas obras a ler. A descoberta era um acto da mais individual liberdade. A dada altura notei que a minha professora de português andava por ali a folhear, lendo na diagonal uma ou outra passagem. Cheguei-me timidamente ao pé dela e perguntei-lhe o que achava do livro que tinha escolhido - era o "Diário" de Anne Frank. Sorriu, acrescentando que seria um bom começo para leituras mais "sérias". E a verdade é que foi mais que isso. Foi um feroz abrir de olhos para o mundo. A primeira grande descoberta nesse universo de palavras e sentimentos, que por vezes nos batem tão ou mais forte que a própria realidade.

0 Comentários:

Enviar um comentário